“Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me?” (João 21:17a)
V
ocê ama a Cristo?Essa é a pergunta mais prontamente respondida por todo e qualquer cristão. Fiz a pergunta para o grupo de jovens que temos em nossa igreja. As respostas foram categóricas: “É claro que amo!”. Rapidamente me lembrei de uma estratégia do Pr. Francis Chan e os pedi para fazer um desafio aos seus líderes – um casal que se uniu em matrimônio há aproximadamente 7 anos. Os instiguei a elaborarem perguntas ao homem, sobre a forma em que evidenciava seu amor por sua esposa. Saíram coisas do tipo:Como você se sente quando está com ela? Até onde iria por ela? Morreria por ela? É comprometido até no Facebook? Ela tem acesso às suas coisas mais secretas? Pensa nela o dia todo?” Demos boas risadas e mesmo diante da tendência de que algumas perguntas soassem constrangedoras, o casal permaneceu descontraído, evidenciando que o dever de casa dos “entendidos” do amor havia sido feito.
Ao concluir esta fase, perguntei novamente: Vocês amam a Cristo? Mesmo com um número reduzido de convicções neste momento, a resposta ainda foi forte: Sim! Então lhes disse que tinha algumas perguntas para lhes fazer. E aproveitei para improvisar aquelas que haviam acabado de ser criadas por eles: “Como você se sente quando está com Cristo? Aliás, vocês têm andado em sua presença ultimamente? Até onde iria por Cristo? Vocês morreriam por Cristo? Estão comprometidos com Cristo até no facebook (expliquei: seus facebooks revelam muito se amam a Cristo ou não)? Vocês confessam a Cristo suas coisas mais secretas? Pensam nele o dia todo? A esta altura entenderam que poucos ali poderiam sustentar suas afirmações sobre a validade de seu amor por Cristo.
Pensando nisso, refleti um pouco sobre como nossas atitudes revelam o que nos move ou a quem amamos. Apenas dizer que amamos não torna isso verdadeiro. Nenhum casal acredita em um “amor” constituído de constantes demonstrações de infidelidade, há de se demonstrar que esse amor é real por meio de ações. Da mesma forma, amar a Cristo vindica comportamento compatível.
Imagino o que significou para Pedro as palavras de Jesus. Logo após a refeição, Jesus veio com essa sobremesa amarga para o discípulo. Era um momento muito difícil para Pedro. Depois de dizer de maneira audível a todos que jamais negaria o mestre, ao ver sua vida em risco, por três vezes se esquivou do desafio de assumir que era um discípulo do Senhor. Pedro negou a maior honra que lhe havia sido concedida na sua vida e demonstrou, naquele momento, que não amava tanto a Cristo como a si mesmo.
Nada mais difícil poderia ser perguntado pelo mestre em seu primeiro encontro com Pedro depois daquele episódio. Tanto a pergunta como a forma (3x) parecem ser propositais e pedagógicas. O amor de Pedro havia sido testado e sabia que não tinha sido aprovado. No lugar de Pedro, eu certamente pensaria: “O que responder sobre o amor que sinto para este que, além de saber de tudo, viu quando minhas atitudes demonstraram minha vergonha”. Entretanto, a audácia de Pedro muitas vezes me assusta. Eu não conseguiria dizer para o mestre o que ele de maneira corajosa disse. Talvez eu diria, “Senhor, não tenho me comportado como alguém que te ama, recentemente...”.Pedro, por sua vez, responde: Sim, Senhor! Tu sabes que te amo! Contudo, ouvir Jesus perguntar pela terceira vez a mesma coisa produziu nele a percepção inevitável de que suas palavras não possuíam tanto valor quanto suas atitudes.
Entendo que muitos de nossos comportamentos anulam nossas falas sobre o quanto “amamos” a Cristo. As atitudes falam mais alto sobre nosso amor que nossas palavras. Não poucas vezes observei a multidão de coisas que constavam em meu dia e as que sentia prazer em fazer, e como exemplificavam o quão distante estava meu coração de Cristo. Observo os ensinos bíblicos de pessoas como Enoque que foram caracterizadas por grande intimidade e um prazer em andar com Deus e penso que nossa geração está distante do amor a Cristo. Essas pessoas viviam pra Deus, suas agendas estavam ajustadas para Deus.
Esse quadro é bem diferente nos dias que vivemos. As pessoas vivem pra si, porque amam a si mesmas. Organizam seus dias para uma vida que traz satisfação apenas para si. E o resultado é uma triste confusão de valores: Uma multidão de vozes querendo ser ouvidas, quando apenas uma deveria ser; Uma multidão de pessoas querendo ser o centro, quando apenas um deveria ser; Pessoas que possuem uma página inteira, para falar apenas de si mesmas (Apenas a parte “boa”, é claro! Não me lembro de me deparar com alguém confessando seus pecados nessas páginas!). Isso parece distante das palavras de Jesus: “Aquele que quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Lc 9:23). Seria possível dizer que amamos a Cristo e viver diferente do que ordenam suas palavras? Afinal de contas, amigos somente são aqueles que fazem o que ele ordena. “Vós sereis meus amigos, se fizerem o que eu vos mando.” (Jo 15:14)
Pedro se sentiu fragilizado diante da frenagem de seu ímpeto aplicada por Jesus – com a repetição da pergunta. Mas, interessante é perceber que a tristeza da impotência de suas palavras manifestaria a certeza de que deveria se apegar à esperança de futura compatibilidade entre sua profissão de fé e seu comportamento. Uma nova oportunidade estava lhe sendo ofertada, uma nova chance não deveria ser descartada. É possível que a frase de Jesus “...apascenta minhas ovelhas” tenham soado como “vai, Pedro...viva então, a partir de agora, como alguém que realmente me ama, obedecendo as minhas palavras”. E assim, o desfecho da vida de Pedro demonstra que ele realmente se apegou as palavras de Cristo, lutou – dali pra frente – por amar e viver Cristo.
Talvez as palavras de Cristo para nós hoje não sejam como as que foram direcionadas para Pedro, mas por certo elas vindicam mudança de comportamento. Minha oração é que assim como aconteceu com Pedro, possamos ser despertados para o amor de Cristo não apenas de palavras, mas de vida e verdade. Pedro entendeu que apenas por Cristo, sua vida poderia ser plenamente transformada para uma vida segundo a sua vontade – por isso ele estava ali mesmo diante de sua vergonha.
Que as palavras de Cristo nos tragam constrangimento, para que haja entendimento do quão distante estamos de viver o amor que ele deseja que vivamos, e nos ajude a sermos finalmente quem nos chamou para ser!
Que ele tenha misericórdia de nós
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