sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Busca de Nossa Satisfação

A convivência com as pessoas é sempre um misto de desafios e pensamentos. Acredito que ninguém é sequer semelhante ao outro, em sua estrutura física ou em suas ideias. Ainda que intimamente próximos, temos convicções completamente distintas daqueles que nos cercam, o que ratifica o verdadeiro desafio de conviver com outras pessoas. Percebo isso até mesmo em meus filhinhos, que fizeram 8 anos em julho deste ano (2013). Eles são gêmeos e nasceram da mesma placenta. A diferença entre os dois, no entanto, é notória. Inclusive na escolha do time do coração: um Flamengo e outro Vasco. Bem, poderemos falar disso em outra ocasião...
Minha fala, entretanto, aponta que, não obstante, percebamos aquilo o que nos diferencia da sociedade, temos, porém, uma baita de uma semelhança. Algo com o qual nem tentamos lutar. Ao contrário, nos dias atuais, as pessoas parecem nutrir essa equidade chamada busca pela satisfação própria. Quando digo isso, me refiro às convicções que produzem satisfação ao nosso ego. Esta é uma palavra grega que significa o pronome pessoal, eu. Felizmente, não há nenhuma novidade ou demérito em alguém que procura lograr êxito em suas realizações. Todos, buscamos e queremos nos sentir realizados. Sentir que somos importantes, e que algum dia quando morrermos alguém sofrerá nossa falta, por amor a nós. O que há de errado nisso?
 Na verdade, isso também aponta para a semelhança estrutural do ser humano. Como criaturas de Deus, fomos feitos para amar e sermos amados. Nosso amor primordialmente nos foi comunicado para ser exercido de maneira absoluta a Deus, e sendo refletido também em nossos semelhantes. Por isso, Jesus, sintetiza a lei em dois grandes mandamentos “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; e [o outro semelhante a este,] amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt. 22:37,38; Mc 12:30,31; Lc 10:27,28). Contudo, como bem sabemos, no evento denominado “a Queda”, o ser humano se desviou do padrão elementar de Deus para ele.
O coração, que é chamado pela Bíblia lugar de onde “procedem as fontes de vida” (Pv 4:23), foi diretamente atacado pela sedição de ser igual a Deus (Gn 3). Chamamos isso, a origem de todos os pecados. O amor que deveria ser “absolutizado” em Deus, agora é destinado ao próprio homem. Não conhecemos bem como era o homem em suas tendências pré-queda, mas este segundo é bem familiar. É possível ver, no decorrer da história, como os homens se tornaram peritos na busca pela satisfação própria, se unindo a outros, apenas, quando isso lhes traria algum benefício. Tudo o que se buscava, apontava para suas “razões” ou suas “verdades”.
Por certo, esta atitude encontra seu fundamento neste evento (Queda). Após isto, não é mais possível ao homem retornar ao estado original sozinho. É impossível para ele sair deste dilema, até que a graça redentora de Cristo Jesus o alcance, regenerando-o pelo Espírito, restaurando a ele a possibilidade do empenho de seu amor a Deus novamente. Todavia, ainda sim há uma luta interna no homem contra aquilo o que chamamos carne. Ele ainda briga com seu “ídolo maior”.
O professor Ms. Fabiano de Almeida Oliveira, disse em uma de nossas aulas: “Após a queda, o maior ídolo do homem é ele mesmo. Ainda que pequenos ídolos surjam como, estabilidade financeira, estética, sustentabilidade, todos se relacionam com o principal deles, o eu”. O problema é que quando “absolutizamos” o nosso eu, colocando-o em primeiro lugar, quem quer que se oponha a isso, se torna alvo de deflagração de nossa ira, ainda que isso nos custe caro. Um exemplo disso são os chamados kamikases, que entregavam suas próprias vidas em defesa de sua nação. Aparentemente, uma causa nobre, mas o conhecimento intrínseco que revela a identificação da superioridade objetivada pela nação japonesa, revela seu ídolo maior, o eu.
O mais interessante é que no cerne de tudo isso, estava o bendito do conhecimento. Devemos lembrar que a mulher desejara ser como Deus, e cuidadosamente após isso, lemos, “conhecendo o bem e o mal” (Gn 3:5b). A história também mostra, principalmente após os pensadores filosóficos, como o conhecimento (“absolutizado” pela razão) efetivou a parceria definitiva com o homem, neste processo de auto-idolatria. E isso, de maneira bem sutil, vem se tornando o maior dos problemas de nossa sociedade. Mesmo entre os cristãos, podemos ver traços fatais desta realidade.
Não é difícil ver pessoas que não olham o ensino da Palavra, que aponta para Cristo, como única fonte de libertação para nossas mazelas. Estão sempre procurando caminhos que lhes tragam satisfação própria, pessoal. Querendo ser oportunizadas, como dotadas do chamado de Deus, e denominando-se “impedidas” por homens. Na verdade, o desejo é o mesmo do velho homem: “quero que as pessoas saibam que eu também sou”. Não deveríamos esquecer que se o Senhor nos chamou, ele o fez exclusivamente para um motivo, sermos para louvor da glória da sua graça (Ef 1:6).
Se o motivo de nossas preocupações é demonstrar ao mundo que somos chamados por Deus, por que não o fazemos nas ruas? Por que não visitamos os doentes? Certamente, há bastante deles que estão aguardando uma Palavra de Deus para suas vidas. Mas, parece que isso não é tão agradável. A quem? Ao eu! Ele deseja ser visto, ser suprido idolatricamente. Constatar isso pode não ser fácil. Pois, é possível tecer textos em redes sociais que agridem as pessoas que são apenas reflexões públicas caracterizadas como liberdade de expressão. Mas, quando trocamos nossa visão de mundo para uma cosmovisão tipicamente Bíblica, percebemos que esta era, na verdade, mais uma necessidade egoística de satisfação própria.
Devemos muito cuidar para que, uma vez regenerados pelo Espírito, prossigamos em nos esvaziar do velho homem (Ef. 4:22). Se nossa satisfação, mesmo sendo chamados cristãos, ainda se torna plena à base de elogios, exibições, adeptos à nossa causa (humanística), é fato que estamos amando nós mesmos no lugar onde deveria estar nosso Criador.
Paulo afirma do propósito de Deus ter nos resgatado em Cristo, quando diz aos efésios:
Para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra,” (Ef. 1:6-10).
Essa dádiva claramente indica a ausência de mérito humano, mas uma realização proposicional de Deus bem definida. Toda sabedoria e prudência que recebemos, é oriunda de Deus, e somente por Cristo podemos conhecer Sua vontade. Deus se manifestou na história para proporcionar a libertação ao homem. Fazendo com que ele finalmente entenda de onde provém o suprimento de suas necessidades.
A satisfação plena do homem não é atingida pelos seus desejos egoístas, sua saciedade só se dá quando vive de acordo com sua estrutura original, que aponta para a adoração a Deus sobre todas as coisas, de maneira absoluta. Esse conhecimento faz o homem, de uma vez por todas, identificar a si mesmo. Foi assim que os homens citados na Bíblia se tornaram referenciais a serem seguidos.
Os homens que realmente tiveram experiências de íntimo conhecimento de Deus puderam também conhecer a si mesmos. Por isso Jó disse, “Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e cinza...” (Jó 42:6); o salmista declarou: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a teu nome dá glória...” (Sl 115:1); Isaías proferiu: “Ai de mim, pois estou perdido...”(Is 6:5); Jeremias ratificou: “Ai de nós, porque pecamos...” (Lm 5:16); Esdras enfatizou: “Ó meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar meu rosto a ti, meu Deus;” (Ed 9:6).
Desta feita, podemos analisar que se vivermos desta maneira perceberemos que não estamos em um processo de aquisição de títulos de quem é superior aos outros, ao contrário, constataremos que o sucesso de nossa busca se dá naquilo que nos conduz à percepção de que devemos ser reconhecidos apenas como servos. Pois, o Soberano, Absoluto e Superior, a Bíblia já tem nos apresentado quem é. A ele devemos buscar em primeiro lugar.
Assim, temo que alguns cristãos nos dias atuais, estejam se equivocando, não percebendo a essência de algumas ações:
Por exemplo, se algum dia pensarmos que o lugar onde estamos já não é mais suficiente para nós, seria ideal analisar se nossa saída não está sendo motivada por um desejo egoísta de sermos reconhecidos como supostamente não fomos, onde estávamos. Isso pode ser comprovado em um simples sentimento, traduzido em uma "liberdade de expressão". Sendo líderes e chegamos à conclusão que falta espaço para nossas pregações ou ensinamentos, por isso saímos; sendo membros e saímos porque o pastor parece ter me “destratado” – não fazendo aquilo que gostaria que fosse feito; ou ainda, se busco um lugar onde “(a) o irm(ã)o fulan(a)o não está...” Quais seriam as justificativas destas motivações???
Existem cristãos hoje que parecem ser experimentadores de denominações, pois já podem recomendar quase todas, por seu vasto conhecimento empírico delas. Acho que esquecem que Jesus tem uma só igreja e é a Igreja do Deus Vivo, a coluna e baluarte da Verdade (I Tm 3:15). Nossa preocupação deve ser atender as palavras de Deus, que declara: “Em todo tempo estejam alvas as tuas vestes...” (Ec 9:8); Também o que mais uma vez mencionamos, provérbios 4:23, "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida".
Nossos pecados não estão escondidos de Deus, se é que pensamos isso. Entretanto, Ele está sempre pronto a perdoar um pecador arrependido, pois um coração quebrantado e contrito, o Senhor não rejeitará, disse Davi (Sl 51:17). Aí descobriremos, cabalmente, que nossa satisfação plena consiste na vontade de nosso Senhor. E estaremos aptos a aprender Dele o que temos que aprender. Cuidemos para que nosso status de crente não seja manchado pelo prazer secularizado, travestido na busca de um espaço, que na verdade só revela a necessidade da satisfação de nós mesmos, da nossa razão, do nosso eu.


Que o Senhor tenha misericórdia de nós!