Este é um período no qual sempre
vivemos um perfeito paradoxo. Buscamos dinheiro somente para satisfazer nosso
desejo de comprar. Como diria o humorista George Carlin, “gastamos mais, mas temos menos...compramos mais, mas desfrutamos menos...”.
Em um tempo de valorização fútil, onde você é o que você pode comprar, as pessoas
gostam de exibir a beleza pela janela de
sua casa, mas desejam esconder a tristeza em que fica sua despensa nos meses
subsequentes.
Não há nada tão resplandecente e tão
solucionador para a humanidade do que o símbolo do Natal. No entanto, seu
significado tem sido constantemente associado a um velhinho de barba branca, com uma barriga sobressalente e sua sacola
de brinquedos. Não é incomum ver crianças se alegrando nesta época, pois
está chegando a hora do “bom velhinho”
se lembrar delas. É fácil entender o que significa o Natal para essas pessoas. O
que não é fácil é conceber como algo que simboliza o grande amor de Deus pode
ser tão naturalmente esquecido.
Este texto simboliza um esforço de
fazer-nos compreender o real significado do Natal para nós. Recomendo também,
uma pregação do Dr. John MacArthur que fala sobre o mesmo assunto[1].
Nesta pregação, realiza um contraste teológico entre o que é Natal para nossa
sociedade e o que realmente significa Natal, de acordo com as informações de
Paulo em sua epístola aos Filipenses.
Pretendo me utilizar deste mesmo
capítulo e fazer algumas análises no mesmo trecho (Fp 2:5-11), e ratifico que
este trecho resume apropriadamente tudo o que precisamos saber sobre o real significado
do Natal. O Natal é para nós o que significa a pessoa de Cristo para a humanidade,
consequentemente o que a Bíblia nos informa que isso significa como ápice da
revelação de Deus à humanidade.
Antes, porém, precisamos refletir
sobre alguns aspectos que norteiam nossa sociedade. Vivemos em um período onde
a pós-modernidade determina que o ser mais importante da face da terra é aquele
que você contempla ao olhar pelo espelho. Todos os esforços que são empenhados
nos dias atuais se dão para que não haja mais nada que seja caracteristicamente
errado de nossa parte. A tentativa de fazer ídolos, no entanto, remonta os primórdios da
sociedade e principalmente, o homem em sua obstinada vontade de cultuar a si
próprio.
Não é por acaso que encontramos as
bilheterias lotadas quando se vislumbra a história de um novo herói. Afinal,
todos se identificam com o herói, acreditando que os intentos do coração através
de atos simples ou até mesmo heroicos podem redimir toda uma sociedade. Isso leva-os a preconizar uma mensagem que não deixam ser perdida ou esquecida, como aquela que é passada
no filme-desenho Rise of the Guardians
(A origens dos Guardiões). Os heróis
precisam ser acreditados, pois quando deixam de crer na realidade
dos sonhos destes heróis só lhes resta o medo.
Coincidentemente, uma das figuras
centrais deste filme e que convoca todo o grupo para o combate ao “Bicho Papão”, que tenta
sobrepujar os heróis infantis à descrença, é o “Papai Noel”. A convocação
invoca também Jack Frost – que se tornou herói por se sacrificar por sua irmãzinha,
mas por seu compromisso consigo mesmo e suas brincadeiras, é alvo de descrédito
tanto dos heróis quanto das crianças, e por isso elas não o veem.
O filme conta de como um herói desacreditado pelas pessoas é
conduzido, de desprezado, a ser o principal nesta guerra contra “as forças do
mal”. O momento de conflito ao personagem principal (Jack Frost) é quando ele é
confrontado com sua própria razão de ser. Pois, já que não era adorado pelas
crianças por não acreditarem nele, poderia pelo menos sentir-se real se fosse
temido se unindo ao “Bicho Papão”. Sua opção em manter-se fiel aos princípios “divinos”
que o levaram até aquela condição de imortal,
o fizeram batalhar pelos heróis que estavam perdendo sua natureza por estarem
chegando a condição de desacreditados assim como ele.
Interessantemente, o filme mostra nas entrelinhas que a
motivação destes heróis era, em ultima instância, alegrar as crianças
principalmente para que o crer delas os mantivessem vivos. Impossível não
associar o filme ao existencialismo, onde a crença associada às ações de alguém
determina o sentido de uma vida aparentemente sem explicação, como era o caso
do jovem Jack Frost.
Apesar de ser um desenho, crianças e
adultos do mundo inteiro já tiveram pelo menos contato com sua mensagem. E como
disse Godawa em seu livro “Cinema e Fé Cristã”, seria muita ignorância da parte
dos que chama de “glutões da cultura”, acreditar que não há nenhum sentido por
trás da história de um filme. Na verdade “todos
eles retratam uma forma de redenção na visão de mundo que possuem”. Neste
caso pode ser bem simples como, “a felicidade de uma criança depende dela
mesma, basta acreditar” ou “Já temos os
heróis que precisamos para sermos salvos do medo”.
Pensando nisso, vemos uma geração de
filhos sendo criados sobre perspectivas ilusórias de redenção, a despeito da
verdadeira necessidade da humanidade. As histórias movimentam nossa sociedade
desde que o homem é homem. É desta forma que gerações foram alcançadas e suas
visões de mundo foram transmitidas a outros. Ignorá-las é, na verdade, deixar
de perceber que isso faz parte da natureza humana. O mundo é composto por
histórias. O próprio Deus utiliza a história para redigir a Sua própria,
revelando-Se a humanidade.
Somos tão propensos a nos envolver
com uma boa história, principalmente, com aquelas que são baseadas em fatos reais, que podemos perder horas debruçados nelas.
No entanto, o fato de não lermos as histórias com a visão de mundo que
completa, responde e dá sentido à nossa existência, nos distancia da
compreensão da verdadeira história da humanidade.
Apenas o cristianismo responde e
atende plenamente a demanda de nossos porquês. E isso não é um sistema de
crenças diante de uma maioria dominantemente cristã. O escritor inspirado, apóstolo
Paulo, escrevendo aos Romanos, retrata o estado da humanidade, fornecendo
perfeitamente o que a levou a tal estado deplorável:
Pois do céu é revelada
a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a
verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se
manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu
eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo
percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto,
tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram
graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato
se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do
Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e
de quadrúpedes, e de répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de
seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; (Rm1:18-24).
Todas as tentativas humanas de
buscar sentido em si mesmo, independente de Deus, revelam o principal obstáculo
dos homens à compreensão satisfatória de sua identidade. Pois, é uma constatação
inevitável, a identificação de um ser ordenado e organizado por trás de toda
criação. Este conhecimento foi algo implementado no homem, como criatura de
Deus, pelo próprio Deus. O não reconhecimento do que os americanos chamam creatureliness
(condição de criatura), e da clara associação ao entendimento da dependência de
Seu Criador é, segundo o apóstolo Paulo, o que leva a humanidade ao estado em
que se encontram.
Por isso, o retrato de uma sociedade
que busca com empenho substituir o que realmente é divino por correspondentes
humanos, não se trata de uma tentativa inocente de alegrar algumas crianças,
mas é descrita nas Sagradas Escrituras como uma rejeição à estrutura
naturalmente estabelecida por Deus para o homem. Todos, fomos gerados à imago Dei e resplandecemos essa
essência. Não poderemos alterar nossa essência por mais que tentemos, antes
apenas, conseguimos nos distanciar cada vez mais de chegarmos ao conhecimento
do que realmente nos faz sentido.
No texto de Filipenses 2:5-11, lemos
sobre a essência do Natal, na pessoa de Jesus Cristo. Pois, em seus valores
fundamentais, o natal simboliza a alegria do nascimento do Filho de Deus,
cuja vida, morte e ressurreição, possibilitou à humanidade a restauração da
comunhão com Deus, que havia sido afetada pelo pecado, desde Adão. O sacrifício
vicário de Jesus Cristo, o Seu único Filho, foi o único elemento capaz de aplacar a ira de Deus.
Contudo, a descrição realizada em Fp
2:5-11 demonstra o que isso significou para o próprio Filho de Deus. Como
disse, o Natal é para nós o que Ele significa para nosso Senhor. E a isso,
devemos nos assemelhar, desta forma que devemos viver. Por este motivo, o
apóstolo Paulo começa falando aos da igreja de Filipos que estivessem atentos
ao modo de vida que o conhecimento desta realidade deveria lhes conduzir. “Tendes
o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus...”.
A partir daí, é descrita a realidade
humilhante a qual o Filho de Deus se submeteu voluntariamente. Jesus Cristo
declara a si mesmo, na oração do cenáculo, que havia se santificado,
identificando não alguém que necessitasse ser purificado, mas aquele que devotara
sua vida para o exercício da vontade de Deus, seguindo até a morte. Por isso, “sendo em forma de Deus, não considerou ser
igual a Deus; antes tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens
(...) humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
O Natal simboliza a intervenção do
próprio Deus na história de Seu povo. Deus, por intermédio de Cristo Jesus,
realizou Sua vontade para a humanidade, fornecendo-lhes a oportunidade de serem
redimidos. Mas, seria incompleto de nossa parte dizer que a vida, morte, ressurreição
e ascensão de Cristo se resumem em fornecer-nos a salvação. O propósito maior
se volta para a exaltação do nome do Senhor Jesus. Não podemos atribuir outro significado à intervenção de nosso Deus
na história fora do que é descrito nas próprias páginas de Sua revelação.
A continuidade do texto nos faz
perceber a verdade significativa. “Pelo
que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo
nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus,
e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai”. A vinda de Cristo não traz outro
propósito senão a exaltação do Seu próprio nome, para que por intermédio Dele a
vida eterna fosse fornecida.
O Natal é mais do que a lembrança de
uma época de comprar e dar presentes. É mais do que a apresentação falsa de um
velhinho que possa realizar sonhos de crianças carentes. É, na verdade, a
oportunidade de fornecer aos carentes o perfeito significado desta data. Que
Jesus Cristo, nasceu, viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus para que
Seu nome fosse exaltado acima de todos os nomes, em todo o cosmos, sendo
suficientemente apto ao fornecimento da vida e restauração da comunhão da criação
com Seu Criador.
Isso tem valor completo e realiza o
verdadeiro sonho “inconsciente” de uma humanidade que estava em total inimizade
para com Deus, trazendo-a de volta ao seio desta comunhão projetada desde antes
da fundação do mundo. Esta é a mensagem de natal para os nossos dias. Esta é a
dádiva que precisa ser constantemente refletida, pois é a única que soluciona o
dilema de uma geração desorientada em suas tentativas autônomas de se redimirem
por suas próprias forças.
O cristianismo responde plena e
cabalmente os porquês íntimos do homem, chegando ao âmago do problema, o
coração. Convocando-o ao correto posicionamento do centro de Sua adoração, direcionados
exclusivamente a Deus, por Cristo. Quando levados a essa realidade, a satisfação deixa de
ser ilusória e a união com o próprio Deus estabelece o ápice daquilo o que pode
se desejar, na representação do que sequer poderia ser imaginado. Por isso,
sabiamente, refletiu o apóstolo; “As coisas que olhos não viram, nem ouvidos
ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os
que o amam”.
O Natal é a celebração do amor de Deus, que por intermédio Seu Filho restaura a Sua criação, para Sua própria glória.
O Natal é a celebração do amor de Deus, que por intermédio Seu Filho restaura a Sua criação, para Sua própria glória.