quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mensagem de Natal a uma Sociedade Pós-Moderna

            Este é um período no qual sempre vivemos um perfeito paradoxo. Buscamos dinheiro somente para satisfazer nosso desejo de comprar. Como diria o humorista George Carlin, “gastamos mais, mas temos menos...compramos mais, mas desfrutamos menos...”. Em um tempo de valorização fútil, onde você é o que você pode comprar, as pessoas gostam de exibir a beleza pela janela de sua casa, mas desejam esconder a tristeza em que fica sua despensa nos meses subsequentes.
            Não há nada tão resplandecente e tão solucionador para a humanidade do que o símbolo do Natal. No entanto, seu significado tem sido constantemente associado a um velhinho de barba branca, com uma barriga sobressalente e sua sacola de brinquedos. Não é incomum ver crianças se alegrando nesta época, pois está chegando a hora do “bom velhinho” se lembrar delas. É fácil entender o que significa o Natal para essas pessoas. O que não é fácil é conceber como algo que simboliza o grande amor de Deus pode ser tão naturalmente esquecido.
            Este texto simboliza um esforço de fazer-nos compreender o real significado do Natal para nós. Recomendo também, uma pregação do Dr. John MacArthur que fala sobre o mesmo assunto[1]. Nesta pregação, realiza um contraste teológico entre o que é Natal para nossa sociedade e o que realmente significa Natal, de acordo com as informações de Paulo em sua epístola aos Filipenses.
            Pretendo me utilizar deste mesmo capítulo e fazer algumas análises no mesmo trecho (Fp 2:5-11), e ratifico que este trecho resume apropriadamente tudo o que precisamos saber sobre o real significado do Natal. O Natal é para nós o que significa a pessoa de Cristo para a humanidade, consequentemente o que a Bíblia nos informa que isso significa como ápice da revelação de Deus à humanidade.
            Antes, porém, precisamos refletir sobre alguns aspectos que norteiam nossa sociedade. Vivemos em um período onde a pós-modernidade determina que o ser mais importante da face da terra é aquele que você contempla ao olhar pelo espelho. Todos os esforços que são empenhados nos dias atuais se dão para que não haja mais nada que seja caracteristicamente errado de nossa parte. A tentativa de fazer ídolos, no entanto, remonta os primórdios da sociedade e principalmente, o homem em sua obstinada vontade de cultuar a si próprio.
            Não é por acaso que encontramos as bilheterias lotadas quando se vislumbra a história de um novo herói. Afinal, todos se identificam com o herói, acreditando que os intentos do coração através de atos simples ou até mesmo heroicos podem redimir toda uma sociedade. Isso leva-os a preconizar uma mensagem que não deixam ser perdida ou esquecida, como aquela que é passada no filme-desenho Rise of the Guardians (A origens dos Guardiões). Os heróis precisam ser acreditados, pois quando deixam de crer na realidade dos sonhos destes heróis só lhes resta o medo.
            Coincidentemente, uma das figuras centrais deste filme e que convoca todo o grupo para o combate ao “Bicho Papão”, que tenta sobrepujar os heróis infantis à descrença, é o “Papai Noel”. A convocação invoca também Jack Frost – que se tornou herói por se sacrificar por sua irmãzinha, mas por seu compromisso consigo mesmo e suas brincadeiras, é alvo de descrédito tanto dos heróis quanto das crianças, e por isso elas não o veem.
O filme conta de como um herói desacreditado pelas pessoas é conduzido, de desprezado, a ser o principal nesta guerra contra “as forças do mal”. O momento de conflito ao personagem principal (Jack Frost) é quando ele é confrontado com sua própria razão de ser. Pois, já que não era adorado pelas crianças por não acreditarem nele, poderia pelo menos sentir-se real se fosse temido se unindo ao “Bicho Papão”. Sua opção em manter-se fiel aos princípios “divinos” que o levaram até aquela condição de imortal, o fizeram batalhar pelos heróis que estavam perdendo sua natureza por estarem chegando a condição de desacreditados assim como ele.
Interessantemente, o filme mostra nas entrelinhas que a motivação destes heróis era, em ultima instância, alegrar as crianças principalmente para que o crer delas os mantivessem vivos. Impossível não associar o filme ao existencialismo, onde a crença associada às ações de alguém determina o sentido de uma vida aparentemente sem explicação, como era o caso do jovem Jack Frost.
            Apesar de ser um desenho, crianças e adultos do mundo inteiro já tiveram pelo menos contato com sua mensagem. E como disse Godawa em seu livro “Cinema e Fé Cristã”, seria muita ignorância da parte dos que chama de “glutões da cultura”, acreditar que não há nenhum sentido por trás da história de um filme. Na verdade “todos eles retratam uma forma de redenção na visão de mundo que possuem”. Neste caso pode ser bem simples como, “a felicidade de uma criança depende dela mesma, basta acreditar” ou “Já temos os heróis que precisamos para sermos salvos do medo”.
            Pensando nisso, vemos uma geração de filhos sendo criados sobre perspectivas ilusórias de redenção, a despeito da verdadeira necessidade da humanidade. As histórias movimentam nossa sociedade desde que o homem é homem. É desta forma que gerações foram alcançadas e suas visões de mundo foram transmitidas a outros. Ignorá-las é, na verdade, deixar de perceber que isso faz parte da natureza humana. O mundo é composto por histórias. O próprio Deus utiliza a história para redigir a Sua própria, revelando-Se a humanidade.
            Somos tão propensos a nos envolver com uma boa história, principalmente, com aquelas que são baseadas em fatos reais, que podemos perder horas debruçados nelas. No entanto, o fato de não lermos as histórias com a visão de mundo que completa, responde e dá sentido à nossa existência, nos distancia da compreensão da verdadeira história da humanidade.
            Apenas o cristianismo responde e atende plenamente a demanda de nossos porquês. E isso não é um sistema de crenças diante de uma maioria dominantemente cristã. O escritor inspirado, apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, retrata o estado da humanidade, fornecendo perfeitamente o que a levou a tal estado deplorável:

Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; (Rm1:18-24).

            Todas as tentativas humanas de buscar sentido em si mesmo, independente de Deus, revelam o principal obstáculo dos homens à compreensão satisfatória de sua identidade. Pois, é uma constatação inevitável, a identificação de um ser ordenado e organizado por trás de toda criação. Este conhecimento foi algo implementado no homem, como criatura de Deus, pelo próprio Deus. O não reconhecimento do que os americanos chamam creatureliness (condição de criatura), e da clara associação ao entendimento da dependência de Seu Criador é, segundo o apóstolo Paulo, o que leva a humanidade ao estado em que se encontram.
            Por isso, o retrato de uma sociedade que busca com empenho substituir o que realmente é divino por correspondentes humanos, não se trata de uma tentativa inocente de alegrar algumas crianças, mas é descrita nas Sagradas Escrituras como uma rejeição à estrutura naturalmente estabelecida por Deus para o homem. Todos, fomos gerados à imago Dei e resplandecemos essa essência. Não poderemos alterar nossa essência por mais que tentemos, antes apenas, conseguimos nos distanciar cada vez mais de chegarmos ao conhecimento do que realmente nos faz sentido.
            No texto de Filipenses 2:5-11, lemos sobre a essência do Natal, na pessoa de Jesus Cristo. Pois, em seus valores fundamentais, o natal simboliza a alegria do nascimento do Filho de Deus, cuja vida, morte e ressurreição, possibilitou à humanidade a restauração da comunhão com Deus, que havia sido afetada pelo pecado, desde Adão. O sacrifício vicário de Jesus Cristo, o Seu único Filho, foi o único elemento capaz de aplacar a ira de Deus.
            Contudo, a descrição realizada em Fp 2:5-11 demonstra o que isso significou para o próprio Filho de Deus. Como disse, o Natal é para nós o que Ele significa para nosso Senhor. E a isso, devemos nos assemelhar, desta forma que devemos viver. Por este motivo, o apóstolo Paulo começa falando aos da igreja de Filipos que estivessem atentos ao modo de vida que o conhecimento desta realidade deveria lhes conduzir.Tendes o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus...”.
            A partir daí, é descrita a realidade humilhante a qual o Filho de Deus se submeteu voluntariamente. Jesus Cristo declara a si mesmo, na oração do cenáculo, que havia se santificado, identificando não alguém que necessitasse ser purificado, mas aquele que devotara sua vida para o exercício da vontade de Deus, seguindo até a morte. Por isso, “sendo em forma de Deus, não considerou ser igual a Deus; antes tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens (...) humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
            O Natal simboliza a intervenção do próprio Deus na história de Seu povo. Deus, por intermédio de Cristo Jesus, realizou Sua vontade para a humanidade, fornecendo-lhes a oportunidade de serem redimidos. Mas, seria incompleto de nossa parte dizer que a vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo se resumem em fornecer-nos a salvação. O propósito maior se volta para a exaltação do nome do Senhor Jesus.  Não podemos atribuir outro significado à intervenção de nosso Deus na história fora do que é descrito nas próprias páginas de Sua revelação.
            A continuidade do texto nos faz perceber a verdade significativa. “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. A vinda de Cristo não traz outro propósito senão a exaltação do Seu próprio nome, para que por intermédio Dele a vida eterna fosse fornecida.
            O Natal é mais do que a lembrança de uma época de comprar e dar presentes. É mais do que a apresentação falsa de um velhinho que possa realizar sonhos de crianças carentes. É, na verdade, a oportunidade de fornecer aos carentes o perfeito significado desta data. Que Jesus Cristo, nasceu, viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus para que Seu nome fosse exaltado acima de todos os nomes, em todo o cosmos, sendo suficientemente apto ao fornecimento da vida e restauração da comunhão da criação com Seu Criador.
            Isso tem valor completo e realiza o verdadeiro sonho “inconsciente” de uma humanidade que estava em total inimizade para com Deus, trazendo-a de volta ao seio desta comunhão projetada desde antes da fundação do mundo. Esta é a mensagem de natal para os nossos dias. Esta é a dádiva que precisa ser constantemente refletida, pois é a única que soluciona o dilema de uma geração desorientada em suas tentativas autônomas de se redimirem por suas próprias forças.
            O cristianismo responde plena e cabalmente os porquês íntimos do homem, chegando ao âmago do problema, o coração. Convocando-o ao correto posicionamento do centro de Sua adoração, direcionados exclusivamente a Deus, por Cristo. Quando levados a essa realidade, a satisfação deixa de ser ilusória e a união com o próprio Deus estabelece o ápice daquilo o que pode se desejar, na representação do que sequer poderia ser imaginado. Por isso, sabiamente, refletiu o apóstolo; As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam”.
           O Natal é a celebração do amor de Deus, que por intermédio Seu Filho restaura a Sua criação, para Sua própria glória.




[1] http://www.youtube.com/watch?v=y3OfaIoueJY&hd=1