segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O conhecimento que glorifica a Deus



Gn 3:7-8 “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim”.

É interessante conversar com pessoas que têm sempre algo a nos ensinar. Gostamos daquelas que possuem conhecimentos para que possamos nos relacionar com elas, aprender mais um pouco, trocarmos o que temos com o que não temos. Poucas pessoas perdem tempo com quem não tem nada a lhes acrescentar. Ainda proferem o velho ditado,"Diga-me com quem andas e te direi quem és". Muitos já tiveram o desprazer de se sentir excluído de uma roda onde a conversa foi levada para um rumo o qual o assunto era desconhecido. É decepcionante!
Entretanto,  aprendi com o tempo que todo conhecimento que buscamos que não visa produzir glórias a Deus tem implícito objetivo de satisfazer o nosso ego. As Sagradas Escrituras afirmam que “Toda boa coisa dada e cada dom perfeito vem de cima, descendo do Pai das Luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17). Naturalmente, a busca por conhecimento visa a obtenção da verdade a respeito de algo, que segundo o filósofo cristão Agostinho de Hipona, só pode ser encontrada originalmente em Deus.
O texto de Gênesis citado é bem conhecido e demonstra a primeira e frustrada tentativa do homem adquirir para si um conhecimento independente de Deus. Vale observar o resultado dessa catástrofe:
1 – foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueiras, e fizeram para si aventais: A simplicidade e confiança no Deus Criador deram lugar a um conhecimento que revelava a impureza e malícia, agora situada na mente do homem. Suas atitudes de proverem para si elementos que atendessem a demanda de suas impurezas revelava a necessidade daquilo o que não poderia ser mais resgatado, seu relacionamento com Seu Criador.
2 – E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim: Ao buscar o homem, em algo que parecia ser rotineiro, mas ao mesmo tempo em uma atitude que revela a graça do Senhor – por já saber em que situação se encontrava o homem – Adão e sua mulher se escondem, dando provas de mais um novo conhecimento recebido: que haviam desobedecido a Deus.
            No verso 9 Deus realiza sua chamada graciosa. A declaração, em forma de pergunta, “Onde estás?”, fez com que Adão e sua mulher saíssem ao encontro de Deus, para mais um novo conhecimento: o da natureza de suas ações a partir de então. Depois da tentativa de transferência da culpa que era pessoal, ambos puderam saber que a verdade de Deus não deveria ser questionada. A expulsão da presença do Senhor significou para o homem que sua produção independente não era suficiente para produzir a verdade e a satisfação em si mesmo.
            O Deus de amor, no entanto, não abandonou a sua criação, e mesmo na sentença consequente prenunciou que lhes proveria a restauração à Sua presença de maneira definitiva. Desta forma, apresentou o que sabemos que foi realizado por meio de Jesus Cristo. Esta era demonstração de onde o homem deveria investir sua busca de conhecimento, algo citado pelo apóstolo Pedro em suas instruções à Igreja: “Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Temos, Nele, a única forma de sermos conduzidos à verdade. Não há nada que possa importar mais para nós do que vivermos segundo os propósitos de nossa criação, os objetivos de Deus para nossas vidas.
            Deus nos criou para que por meio Dele pudéssemos viver e conhecer todas as coisas, mas não deseja que façamos isso de maneira independente, porque dependemos dele para o sucesso de nossas ações. Quando pensamos que por nossos próprios esforços chegaremos ao destaque, estamos profundamente enganados. Nossa conduta independente só busca glória para nós e isso é uma contravenção a nossa origem, pois fomos criados para glória de Deus.
            Pensemos e reflitamos por que e para que desejamos conhecimentos? Para glorificar a Deus com o que conhecemos, ensinando a outros o precioso conhecimento de Cristo – e como ele nos resgata as faculdades do saber? ou para que as pessoas nos vejam como entendidos e no fundo nosso ego seja massageado?
           

            Que o Senhor nos ajude!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

E o seu cuidado com a Família, como está?


 "Mas se alguém não cuida dos seus, especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo" (I Tm 5:8).

Não há proveito nenhum em nutrir "descasos" familiares. Acho um absurdo isso! O amor a um ente querido não é dedicado por aquilo o que ele pode oferecer, muito menos o serviço é prestado por aquilo o que se pode esperar. Amamos, porque somos parte um do outro, porque há cumplicidade, porque há o cuidado e a preocupação de que estamos fazendo como que a nós mesmos.

No entanto, vivemos em uma época de tanto egoísmo que, mesmo onde deveria ser percebida esta propensão, o que se vê é uma terrível disputa pelos "meus direitos!". Isso é resultado da mais pura necessidade que o homem (serhumano) tem de entronizar a si mesmo. Na verdade, quando gostamos de saber que aquela pessoa precisa de nós e por isso dimensionamos nosso grau de importância, estamos apenas medindo nosso valor a nós mesmos e não à verdade exigida na Palavra - o cuidado com os nossos.

O apóstolo Paulo orientou a Timóteo que honrasse aquelas que não tivessem ninguém para assisti-las (no caso, as viúvas que não possuíam filhos ou netos), mas caso estas tivessem quem as assistisse deveriam ser cuidadas pelos seus descendentes - enfatizando que isso é algo agradável ao Senhor (ITm 5:3-5).

Cuidar de nossa casa é algo que, segundo o escritor inspirado, proporciona satisfação ao nosso Deus, mas o descuidar, maltratar, ou até mesmo destratar, nos leva a triste situação de sermos classificados como "pior que infiéis". Aquele que acredita ter estudado o suficiente ou alega ser tão espiritual para desvalorizar aquilo o que nos ensina a Palavra, deveria repensar seus estudos e sua espiritualidade, especialmente, porque não há nada que supere a excelência das Sagradas Escrituras.


Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A justiça passa longe onde há apreço pela mentira (Is 59:14)



"Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar"

O sucesso de uma nação, segundo os preceitos bíblicos, é evidenciado no reflexo de uma conduta baseada nos princípios da verdade. Associando ao detentor desse padrão, Agostinho, ratifica que toda a verdade procede de Deus. Assim, por diversas vezes, a Bíblia apresenta os insucessos da nação escolhida pelo Senhor, quando não atentavam para as determinações pactuais que deveriam nortear seu modo de vida. Por conta dessa infidelidade, principalmente por parte da liderança, todo o povo padecia em suas depravações, o que também resultava em desigualdade social.

No texto base proposto, o profeta Isaías traduz aos seus conterrâneos o motivo pelo qual a nação se encontrava em profundo declínio. Revelando um contexto de depravação espiritual e consequente afastamento de Deus, por parte de Israel. A iniquidade do povo era capaz de afastar qualquer possibilidade de justiça. E em um meio onde a maldade era o “prato do dia”, os que tentavam se afastar dela eram afligidos por isso. A falta de homens que retornassem a verdade retratava a condição eticamente deplorável da nação.

O povo de Israel serve como referência para nós, diante do que caracteriza a extensão do povo escolhido, por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo na cruz. Não é de se estranhar que essa percepção perpasse as Sagradas Escrituras e ressaltem aos nossos olhos nos dias atuais. A falta de solidificação na verdade expõe de maneira semelhante o peso de uma nação cuja liderança se mantém distante dos preceitos divinos. Isso evidencia a impossibilidade da justiça e traduz a inconsistência dos argumentos que apresentam perspectivas ilusórias de aclive moral. Não é preciso entender de política para enxergar a imoralidade presente em todos os setores governamentais nacionais. A responsabilidade de gerir uma nação impõe a necessidade do reconhecimento da dependência do Rei Cósmico.

Israel deveria exibir às nações o parâmetro para uma conduta moral, político e religiosa diante do Deus Yahweh. Em contrapartida, se enveredaram por caminhos pecaminosos, distantes da verdade. Da mesma forma, atualmente, vemos que aqueles que deveriam apresentar o exemplo de uma vida pautada na verdade, de uma vida irrepreensível aos olhos de Deus e da sociedade, tem deixado a desejar. Apresentam-se indícios de uma profunda deturpação da verdade, em um quadro onde os que com a responsabilidade de serem “propagadores da verdade” estão se afastando cada vez mais dela. O resultado não poderia ser outro, a quantidade dos chamados cristãos sem base bíblica é considerável. Ventos de doutrina que se levantam, agravam a condição da igreja, que apresenta um acréscimo numérico, mas um decréscimo em sua confiabilidade ante a sociedade.

Tais quais os textos de Jeremias e Malaquias, não é difícil perceber o contraste bíblico com "a verdade" pregada atualmente (principalmente na mídia), dos lugares de onde ela deveria vir de maneira límpida. O que sai, no entanto, é algo que se aproxima daquilo o que tem sido basilar na sociedade. “Você é mais que vencedor, não aceite a derrota, pois agora é só vitória! Você tem que ser abençoado... para isto, basta ser fiel a Deus e dar a Ele tudo! Você não nasceu para estar doente, precisa então determinar a sua cura!” Frases como essas são diariamente proferidas, na apresentação de um “cristianismo capitalista”, que se ocupa em fornecer às pessoas o que elas precisam fazer para conquistar suas bênçãos com suas próprias forças. Todavia, ao serem confrontados com questões que demandam uma atitude cristã como o perdão, o exercício do amor, a prática da misericórdia, são rigorosos e exigem justiça. Se o “pisão” é em seu calo, sai de baixo!

Em um contexto como este, onde não há constância na informação da pureza da Palavra de Deus, fica difícil encontrar um padrão a ser seguido. Se não há verdade, a mentira torna-se comum e se ela é comum, os poucos seguidores da verdade se tornam anomalias. É assim que alguns profetas foram classificados, na tentativa de remar contra a maré que alinhava o povo a uma vida envolta ao pecado, sendo esbofeteados, açoitados, presos, mortos. A história exibe homens que doaram suas vidas por causa da verdade, mas parece que isso não está mais em voga. A verdade não é mais buscada, porque não há interesse no afastamento da mentira.

Nesse quadro, pregar a mensagem das Sagradas Escrituras de maneira genuína, que condena o homem pecador e convoca-o ao arrependimento, é provocar redução de audiência. A mensagem precisa ser suave, incentivadora, sem confrontos, confortável, de maneira que soe bem aos ouvintes. Os “crentes” de hoje indicam, semelhante ao período dos textos referidos, sua aprovação na parceria com a mentira. Certamente, os profetas citados, se vivessem nos dias atuais, não seriam tratados de maneira diferente do que foram em sua época. Porém, é certo que tornaram-se referências pela postura irrepreensível que adotaram. Este é o desafio que se levanta na atualidade.

Essa leitura provoca em nós uma reação e uma pergunta: Seria este conflito de identificação com a verdade, por parte da igreja, o motivo do declínio moral de nossa nação? É fato que há escassez de referência moral no país, por isso a política é vergonhosa. Também é notória a ausência de um padrão religioso, por esta causa o ecumenismo ganha força. Somente um confronto pessoal com a solidez da Palavra poderia transformar vidas a buscarem a justiça do Senhor. Esta é a prioridade dos que professam Cristo e o condicionamento dos que almejam a sua vontade. Quando existe interesse na manutenção de um firme posicionamento na verdade são fornecidos os parâmetros regulares às autoridades que nos cercam. Os luzeiros se acendem e a expectativa é outra.

O mais interessante é encontrar líderes cristãos buscando soluções diferentes das que são descritas na Palavra de Deus. Vivemos um momento interessante em nosso país nos últimos meses, onde alguns líderes pareciam estar engajados em outra causa, que não a do Evangelho - buscando servir como incentivadores das massas em redes sociais, estabelecendo esperanças em um poço sem fundo. Esta constatação só pode ser sentida quando mesmo após o período eleitoral ter passado, as mentes ainda se voltam para o que deveria ter acontecido segundo suas expectativas. E corremos para o alerta de fraudes, revoltas, agrupamentos contra o governo, como se isso fosse estranho a um país que se envereda pelo distanciamento de Deus. Não há outra solução para nossa nação a não ser o desapego da mentira e a aproximação da verdade.

A esperança de nossa nação não é um canditato à presidência, mas sim o estabelecimento do Deus Yahweh, como seu único Deus. A revelação base para isso está no texto de salmos que diz que “Feliz é a nação cujo Deus é o SENHOR!”. Sabemos, no entanto, que o Senhor é quem nos atrai para si, por meio de Seu Espírito - nos mostrando nossa real necessidade. E Deus utiliza a Sua Palavra para que aqueles que estão em trevas sejam impactados pela Luz de Cristo. Todas as vezes que ocorreu um avivamento em uma nação, que provocou mudança nos regimentos dela, houve um retorno à verdade, um retorno às Sagradas Escrituras. Seria possível um avivamento em massa no Brasil? Para isso, a Bíblia precisa ser pregada, Sua verdade precisa emanar e não ser escondida pelo clamor popular. Somente assim, a justiça poderá adentrar os umbrais de nossa nação. A vontade de Deus é que aqueles que foram retirados da mentira se apresentem como o apóstolo Paulo: "Quanto a mim, estou pronto para anunciar o Evangelho..." Rm 1:15.

Que o Senhor nos abençoe!

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O que significa ser um "servo inútil"?


Quando Jesus disse que somos servos inúteis Ele não quis dizer que nosso serviço não possui valor nenhum. Jesus frequentemente chamou seus discípulos a serem produtivos. No entanto, Ele os conscientizou que não há bonificação ou mérito em seus serviços.

Na Idade Média, uma visão perniciosa se espalhou, que garantia que cristãos não somente poderiam obter certo tipo de mérito pelas obras que eles realizavam, mas também poderiam realizar obras de supererrogação – obras tão valorosas e meritórias – que eles poderiam se elevar ou atingir níveis acima do que Deus requeria para Seu povo. A Igreja ensinou que o excesso de mérito dessas obras de supererrogação eram depositadas no que ficou conhecido como “o tesouro de mérito”, e de lá, isso poderia ser distribuído a pessoas no purgatório que estavam em débito de méritos. Esta ideia estava por trás de toda controvérsia sobre as indulgências no décimo sexto século, e este foi o maior ponto de debate entre Protestantes e Católicos Romanos. Isso tudo resumia o conceito de que seria possível aos crentes realizar obras acima ou além do que era esperado.

As palavras de Jesus aqui em Lc 17 certamente colocam esta ideia em seu devido lugar. O que eu poderia possivelmente fazer que não fosse o que Deus exigisse de mim em primeiro lugar? Lembre-se, Ele nos manda ser perfeitos, e não podemos progredir em perfeição. Não podemos sequer esperar alcançar este patamar. Eu não tenho nenhum benefício em mim mesmo, porque eu não ganho nada fazendo somente o que me é exigido que se faça. Nisto está o porquê nossa redenção é pela graça e graça somente. Existe somente uma coisa que eu posso colocar diante de Deus que, falando apropriadamente, é só meu, o meu pecado. A única coisa que pode me redimir não é minha obra, mas a obra de Cristo realizada em meu favor. Ele livremente veio fazer a vontade do Pai e submeter Sua própria vida à lei para nosso bem. Ele, e somente Ele, é o servo útil.

Se nos servimos de esforços para chegarmos ao reino de Deus, enganamos a nós mesmos. A motivação para o serviço cristão é amor a Deus. Não servimos para receber a salvação, mas porque Cristo já conquistou a salvação por nós. Esta verdade está por trás do verso do grande hino de Augustus Toplady, “Rock of Ages” que diz, “Nada trago em minha mão, simplesmente à sua cruz me apego”. Toplady entendeu que após termos realizado nossos melhores feitos, permanecemos servos inúteis. Não importa o quão exemplar seja o nosso serviço, não temos nada que poderia ser oferecido a Deus para merecer Seu favor.
O pastor John Piper tem acordado pessoas para um conceito de vital importância para nossa fé cristã – a alegria de ser encontrado em posição de obediência a Deus. John enfatiza qe o motivo de nossa obediência não deveria ser simplesmente em um sentido abstrato de dever. É claro que, algumas vezes, temos que obedecer por dever, e isso é melhor do que a desobediência. Existem momentos quando não há prazer com respeito à obediência, mas podemos apenas esperar até que sintamos prazer em fazer isso. Todavia, John está absolutamente correto: isto deveria ser nosso desejo, obedecer a Deus. Deveríamos nos sentir motivados em servir a Ele cheios de alegria pelo que Ele fez por nós, não com pensamento de que somos obrigados a obedecê-lo, ou como se isso fosse algo que nos fizesse ganhar os céus.


Assim, somos servos inúteis – pelo menos neste mundo. Porém, lembre-se que o mestre na Parábola de Jesus disse a seu servo: “após isso comerás e beberás”. Nesta simples afirmação encontramos uma pista da ideia que Jesus torna explicita em Mt 16:27 – que na volta de Cristo, Ele “dará a cada um segundo suas obras”. Devemos ser cuidadosos com a palavra “segundo”. Isso não quer dizer que nossas obras merecerão recompensa. Mas, que Deus em Sua graça distribuirá recompensas de acordo com nosso serviço – apesar de nossas obras não serem dignas. Essa é uma distribuição graciosa de recompensas; Agostinho explicou isso desta maneira: “Deus coroando seus próprios presentes”. Ou seja, mesmo quando recebemos as recompensas do céu, nós as recebemos como pessoas que, de si mesmas, são apenas servos inúteis.

By R.C. Sproul texto original
Tradução: Jonatas Bento

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Certeza e Esperança

“Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças”. (Fp 4:6)
          
           É algo bem natural nutrirmos preocupações. Homens e mulheres são especialistas em viver o amanhã, antes que o hoje termine. O que este estado implica para nós? Ansiedade, ansiedade...e ansiedade. Segundo o dicionário Aurélio, ansiedade pode ser definida como “estado emocional angustiante acompanhado de alterações somáticas (cardíacas, respiratórias, etc.), e em que se preveem situações desagradáveis, reais ou não”.
No Novo Testamento, a palavra merimnaō ocorre 19x. Esta palavra, na grande maioria das vezes, refere-se aos pensamentos de inquietação com relação às incertezas da vida. O apóstolo Mateus utiliza esta palavra para descrever o discurso de Jesus em pelo menos 6 vezes, no evangelho que leva seu nome. Dentre elas, lemos “não vos inquieteis (merimnēsēte), pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta cada dia o seu próprio mal” (Mt 6:34).
Alguns ensinos bíblicos parecem ser muito difíceis de serem compreendidos. E este é certamente um deles. Como não ficar preocupados quando nos sentimos ameaçados pela incerteza? Como não nutrir desesperança quando não se vê nenhuma saída? Quantas vezes entramos em buracos que parecem não ter nenhuma escada para sair. E o pior ainda acontece quando a chuva começa a trazer águas para dentro do buraco e não há ninguém para lhe ajudar. É assim que nos sentimos quando olhamos para as circunstâncias à nossa volta, invés de percebermos que o recurso já nos foi dado.
O apóstolo Paulo redige uma epístola à igreja de Filipos com um tom bastante alegre e com muito amor. Pelo exemplo da igreja de Filipos, Paulo fornece admoestações que visam promover manutenção do caminho saudável que estavam seguindo. Essa necessidade de se manter neste caminho é exatamente o que o leva a declarar ao final que não deveriam permitir que a inquietude tomasse lugar na vida deles, fazendo com que esquecessem que Deus é quem controla todas as coisas na vida de seus filhos. Por isso, ele orienta que até mesmo as petições dos irmãos deveriam ser feitas conhecidas a Deus, por intermédio de ações de graças. Paulo está dizendo que deveriam entregar a Deus suas petições e súplicas, de maneira que isso gerasse neles a conscientização que o Senhor está perto deles.
O cristão deve se conscientizar de que quando a esperança lhe falta é porque há incerteza do controle das situações. Este sentimento só vem quando pensamos inutilmente que podemos dominar todos os aspectos de nossas vidas. Quando pensamos que alguma coisa saiu errado isso só revela que somos insuficientes para projetar os nossos passos por nós mesmos, porque somos pecadores. Mas, quando entendemos que as mínimas coisas podem fazer parte do grande propósito de Deus para nos aproximar Dele – por Seu imenso amor – a ansiedade cai e a esperança é revelada.
Qual será a alegria do homem sem Deus? Um carro? Um trabalho? Um baile? A vida é bem curta, as coisas são passageiras. Hoje mesmo, alguém que estava vivo neste mundo, já não se encontra mais entre nós. Mas, a Bíblia nos afirma que por causa da ressurreição de Cristo, a nossa esperança é certa (I Co 15). A quem recorrer, para onde ir? Esta foi a pergunta de Pedro, seguida da afirmativa: “Se só tu tens as palavras de vida eterna!” (Jo 6:68). Se isso não vale de nada em nossas vidas, para que dizer que somos cristãos? É muito melhor falar: “não acredito nisso!” ou até mesmo dizer: “Não creio que Deus possa me ajudar em minhas necessidades!”. E assim revelar que absolutamente não sabemos qual é a nossa real necessidade, porque se soubéssemos...entenderíamos seu controle sobre nosso futuro.
            Deus conhece tanto as nossas vidas que Ele sabe exatamente o que precisa fazer para que prossigamos nosso caminho de santificação. Será que Deus pode nos falar ainda hoje acerca destas coisas? Será que Deus não está proporcionando aquilo o que é necessário para efetuarmos o clamor que Ele deseja ouvir de nós? Não percebemos isso na vida dos personagens das narrativas bíblicas? Não vemos isso na vida de José, sendo afligido por seus irmãos, para ser conduzido ao Egito, para preservação de toda sua família? Na vida de Rute, deixando-a somente com sua sogra para que pudesse se casar com Boaz e fazer parte da linhagem que apontaria para o Cristo? Na vida de Ana, por intermédio da esterilidade para efetuar o clamor e posteriormente fornecer um dos maiores profetas ao Senhor? Que Deus é esse?! É o Deus Todo-Poderoso e que conhece o amanhã, não olhando apenas o hoje como nós – seres limitados pelo nosso próprio pecado.
            A ansiedade é a tristeza profunda pela certeza de que não temos controle das situações da vida, ou de nosso futuro. Mas, isso na vida daquele que se diz cristão é pior, porque diz respeito à insatisfação da consciência de que somente Deus pode ter o controle da vida da humanidade. Estarmos insatisfeitos com o controle de Deus sobre nós é como se estivéssemos dizendo a Ele que seu trabalho não está sendo bem feito. O que quero dizer é que não haverá um ponto em que nossas escolhas individualizadas proporcionarão satisfação se não estiverem centradas no Senhor.
            Somente Cristo pode nos fazer ter boas escolhas na vida. Somente Ele pode nos cuidar. Somente Ele pode nos tirar do buraco que nós mesmos entramos no Éden. Por este conhecimento que Paulo declara que seu trabalho é recompensado, porque o propósito do homem de Deus e da mulher de Deus é fazer com que Cristo seja a certeza da esperança da glória (Cl 1:27). Apenas Ele, pode livrar a humanidade da morte, lhe dando certeza e esperança d(n)a vida.
           
Senhor! Ajuda-nos a compreender que nossa esperança está em ti! Não conseguimos enxergar um palmo à frente de nossos olhos. Nos apegamos em coisas materiais que estão em nossas vidas como ídolos – tentando ocupar o Teu lugar. Perdoe-nos! Somos tão falhos! Ensina-nos a viver os nossos dias entendendo o Teu controle sobre nós, para que estejamos sujeitos à Tua vontade e quem sabe, viver segundo Ela. Sabemos que tens proporcionado as situações necessárias para nos conformamos a Ti, mas precisamos amadurecer mais para enxergar isso.
            Tu és Santo e não permitirá que ninguém menos que isso chegue a Tua presença! Nos ajude, por favor!

 Amém.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Fé e Graça

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; (Ef 2:8).

Nunca poderemos identificar a boa notícia da salvação para nossas vidas, sem antes compreendermos a terrível notícia de que todos os homens estão perdidos. É exatamente assim que o apóstolo Paulo inicia sua singela e preciosa epístola aos crentes de Roma. De certa forma, Paulo informa a verdade que assola a humanidade como um todo, e o cuidado de Deus para com seus filhos, os eleitos.

O apóstolo lembra que, por causa do pecado, toda raça humana foi sentenciada à morte e não há um sequer que possa escapar, por suas próprias forças, deste julgamento. Ele chega a dizer, em Romanos, que o homem está destituído da glória de Deus (Rm 3:23). No início do capítulo em que se encontra o texto que citamos, vemos Paulo dizendo algo de natureza semelhante, informando a respeito da morte causada pelo pecado e que por esta condição ninguém estava apto a responder positivamente à graça. Ao contrário, éramos como fantoches nas mãos do príncipe deste mundo, vivendo segundo os desejos da nossa carne (Ef. 2:2,3).

Por isso, podemos compreender que o homem é refém de sua própria concupiscência, e apesar de saber que seus atos se constituem em pecado, sua mente é incapaz de fazê-lo superar suas tendências pecaminosas. O homem se afastou de Deus e tem nutrido essa inimizade com unhas e dentes, sentindo ainda por isso os efeitos dessa queda. Estes efeitos afetaram também a capacitação mental humana que fora fornecida por Deus à sua criação, ao que denominam efeitos noéticos da queda (vem da palavra grega nous - que quer dizer mente).

Um reflexo dessa esclerose pode ser visto no homem "moderno". Durante muito tempo o homem buscou encontrar o sucesso para sua vida, por intermédio da razão. Contudo, sua produção intelectual limitada não pôde proporcionar escape para seus dilemas. O homem não conseguiu concluir e encontrar uma saída e ainda foi levado ao desespero por seus próprios caminhos. É neste tempo que vemos muitos, na verdade, advogarem que a solução para sua vida era acabar com ela – dizendo que isso era o escape de uma vida sem sentido. A constatação da falta de sentido na vida, porém, é o resultado que o próprio Senhor os entregou, pois se tornaram nulos em seus entendimentos, por não reconhecerem que o Ele é Deus – quando a própria criação dá testemunho dessa verdade (Rm 1:18-32).

Mas, a conjunção adversativa que aparece no texto aponta para a seguinte proposição “Deus sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (Ef. 2:4), nos mostra o real valor da graça. Pois estando o homem perdido, sentenciado e sem esperança em si mesmo, Deus proporcionou, no descortinar de Sua grande revelação – com a qual o pecado não pôde resistir - a resposta para os dilemas da humanidade. Jesus cristo venceu o pecado, o mundo e a morte. Ele conquistou o direito, na cruz, da realização do restabelecimento da criação de Deus à Sua presença. Implantou nos seus filhos, pelo Espírito Santo, a verdadeira razão – a fé – com um instrumento cognitivo que os mantém cônscios de sua dependência de Deus.

Esta relação alerta-nos sobre a união que foi possibilitada e estabelecida em nós pela vitória de Cristo na cruz do calvário. Ele nos uniu a Ele, de maneira que o que fora dito aos discípulos “para que onde eu estou estejais vós também” (Jo 14:3), pode ser plenamente percebido nas Escrituras. A relação com Cristo foi estabelecida pelo Espírito Santo para que, de maneira ininterrupta, vivêssemos em novidades de vida.

Por essa união, podemos compreender claramente o que significa a informação que Paulo fornece quando diz que “nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 2:6). Tudo isso tem propósito bem específico e encontra sua resposta na propagação do Evangelho de Cristo para evidência de Sua graça. Por essa revelação da bondade de Deus, que é o próprio Cristo (Ef. 2:7), somos compungidos à vida segundo os Seus mandamentos.

Não há mérito em nós mesmos. Se fomos alcançados por Deus devemos entender que isso se deu por motivo de Sua graça. Infelizmente, é uma pena que muitos não consigam entender isso, porque seus corações ainda estão obscurecidos e não conseguem contemplar a luz. Todavia, é motivo de extrema satisfação para os privilegiados que entendem que “Se não fora o Senhor...” (Sl 124), nada em nossa vida faria sentido. Não saberíamos por que necessitamos ser salvos, ou até mesmo para quê sermos salvos.

As respostas se tornam simples quando nosso raciocínio é vivificado, por meio da fé. Por isso, sermos salvos porque éramos inimigos de Deus e estávamos indo para o inferno, se constitui como um argumento bem plausível e real; bem como, sermos salvos para viver em novidades de vida e apresentar ao mundo que Jesus Cristo é o Senhor e ama o pecador arrependido, parece traduzir um bom sentido e explicação ao motivo de nossa existência.

Concluindo, não poderemos esquecer que o Autor da vida, o Criador do Cosmos, nunca faria nada que não fosse, antes de qualquer coisa, resultado de Seu amor e consequentemente um apontamento e manifestação de Sua Glória e Majestade. Nada é mais importante que Aquele que nos salvou, que deu sentido à nossa vida, que nos amou, quando éramos por natureza filhos da ira. Somos gratos a Deus por nos amar, por nos livrar e por nos fazer entender o que significa a essência de Sua maravilhosa Graça.


Glória a Deus!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ídolos do Coração

"Escondi a tua Palavra em meu coração para eu não pecar contra ti" (Sl 119:11)

Queridos irmãos,

Passei muito tempo envolvido com uma série de atividades e não pude manter-me frequente nas postagens deste blog. Sinto imenso desejo e prazer em escrever acerca do evangelho de Jesus Cristo, no entanto, estava impossibilitado pelas muitas tarefas que nos envolveram no início deste ano.

Neste período tivemos muitas realizações e a manutenção dos propósitos estabelecidos no ano passado continuam caminhando progressivamente. Poderíamos nos unir ao salmista e declarar com toda certeza que "Grandes coisas fez o Senhor por nós e por isso estamos alegres" (Sl 126:3). É fato que nos alegramos quando compreendemos as grandes coisas que o Senhor tem feito por nós, rotineiramente. No entanto, nem sempre esta compreensão está tão explícita em nossas atitudes.

Já tive a oportunidade de presenciar vários momentos onde cristãos haviam esquecido que Deus havia feito grandes coisas por suas vidas. Na verdade, o distanciamento desta percepção fazia com que houvesse, infelizmente, mais palavras de reivindicações que de gratidão. Com o tempo passei a compreender que isso não se tratava de outra coisa senão, a intrínseca necessidade do homem de glorificar seu ídolo.

Quando passamos da gratidão a reivindicação a Deus, nos perdemos em nossos argumentos frágeis e insustentáveis, passando a não identificar mais a bondade do Senhor. Nos tornamos murmuradores em nossos corações e não há outro lugar que seja o pior habitat da murmuração do que o coração. Pois, é do coração que procedem as fontes de vida (Pv 4:23), por isso o autor inspirado convoca seu filho: "Guarda-o!".

O coração na Bíblia não é apenas o órgão que bombeia sangue por todo o corpo, mas esta palavra se refere ao âmago do homem, ao íntimo de seu ser, aos centro de suas emoções e ações, à nascente de suas atitudes. É ali que está o verdadeiro eu, o verdadeiro você. É ali que o Senhor estabelece o trono naqueles que são seus servos verdadeiros. Foi assim que Ele criou a humanidade - para obediência plena a Sua Palavra. Mas, infelizmente, foi ali que a serpente tocou quando disse a Eva que poderia ser igual a Deus. O desejo de sentar no trono de Deus significou e ainda hoje significa a ruína de todos os homens. Não é sem propósito que a Bíblia afirma que "o SENHOR olha o coração" (I Sm 16:7b) e o homem a aparência apenas.

Deus nos conhece melhor que nós mesmos e sabe se em nosso coração está o desejo de exaltar a Ele sobre todas as coisas em nossas vidas - o que produz como resultado a plena satisfação em toda e qualquer circunstância - ou se assentado no centro de nossas prioridades está o nosso eu. Isso resulta em pecado contra nosso Senhor e não há outro remédio para isso, senão o que o salmista informa. Não é uma mudança repentina de atitudes, um policiamento para não fazer determinadas coisas, mas, apenas a obediência à Palavra é capaz de levar o homem à caminhos de paz.

Se tomarmos a Palavra de Deus como aquela que pode nos ensinar, redarguir, corrigir e instruir em justiça, ela nos apontará que o único caminho para satisfação e gratidão reside em Cristo e é por este caminho que somos retirados da via que nos conduzia a perdição, onde éramos controlados por nossas satisfação em produzir nossas mazelas, e somos trazidos para a Luz. Com a Palavra plantada em nossos corações somos levados à tristeza por nossos pecados, e o arrependimento pelo entendimento da suficiência de nosso Senhor.

Não deixemos nos enganar, pois nosso coração consegue iludir muitas vezes a nós mesmos, porém, façamos como o salmista e guardemos a Palavra de Deus, para que ela regule a nossa conduta e nos aponte para Cristo e sua suficiência para nos livrar do mal e de nós mesmos.

Que o Senhor nos ajude!