Se você é estudante de teologia seja por ter
ingressado em um curso teológico ou mesmo porque estuda de maneira
independente, provavelmente já leu ou ouviu falar algumas vezes a expressão
conjunta teologia bíblica. Nos cursos
que realizei, fui desafiado a enxergar os textos da Escritura Sagrada diante de
uma perspectiva bíblico-teológica. Mas, o que seria teologia bíblica? Aliás,
alguma teologia poderia não ser bíblica? Este foi um dos questionamentos
realizados e prontamente respondidos em nossa apostila no curso[1].
Estudiosos de teologia têm, ao longo dos
anos, sistematizado as áreas do saber teológico e com isso é comum encontrarmos
outros nomes, geralmente se referindo ao âmbito de atuação (MEISTER, 2010):
Teologia Histórica, Teologia Dogmática. Embora saibamos que nossa forma de
pensar não é compartimentada, esse recurso é sem dúvidas um agente facilitador
para organização e delimitação das pesquisas realizadas na Teologia.
Ao buscarmos resposta satisfatória para
a pergunta sobre teologia bíblica, assim como Geerhardus Vos (2010) introduz em
seu livro, precisamos primeiro pensar nos termos. A palavra teologia
etimologicamente transmite a ideia de ciência
que tem por fim estudar Deus. Sabemos que ao estudar algo lidamos geralmente
com objetos impessoais e por esse motivo buscamos aquilo o que é possível encontrar
por meio de nossos próprios esforços (VOS, p. 13). Entretanto, no caso de um
ser pessoal, para que haja efetivo conhecimento é necessário que ele se
exponha, se revele. Não é possível conhecer ou estudar a Deus a não ser que Ele
tenha o propósito de se revelar[2].
Desta forma, como salienta Morris (2008), Teologia pode somente ser definida
quando temos em mente que os aspectos etimológicos devem ser reféns dos
corretos pressupostos. Desta forma poderíamos ter uma definição mais
apropriada como estudo daquilo o que é
possível conhecer a respeito de Deus ou ainda, estudo do que Deus desejou revelar a respeito de si mesmo.
Devemos então adicionar
o outro termo, bíblica. O que este termo
acrescenta a essa definição tem variado de acordo com a forma que o estudante
enxerga as Escrituras Sagradas. É possível que alguém que não creia na Bíblia
como Palavra de Deus proponha uma definição diferente da que trabalharemos
em nossos estudos. Contudo, porque lidamos com a Bíblia como a infalível, inerrante e
inquestionável Palavra de Deus cremos que o que está registrado em suas páginas
não somente nos servem como regra de fé e prática, como também deve ser
considerado na forma em que é apresentado.
Uma observação das Escrituras poderá
fornecer ao leitor a consideração acertada de que seus livros foram escritos
com propósitos específicos. É comum que identifiquemos que há uma história na
maioria destes livros, principalmente se observamos os de gênero literário
narrativo. Esta percepção é fundamental para iniciarmos nossas análises. Mas, há
ainda uma consideração que não pode ser deixada de lado, pois é ela que
diferencia os meros leitores dos estudantes da Teologia Bíblica (TB). Os textos
das Sagradas Escrituras estão harmonizados e muitas vezes se utilizam das
referências já apresentadas em outros textos para composição de suas
informações. Ou seja, eles parecem se alimentar e retroalimentar das
informações contidas em si mesmo (me refiro a todo o Cânon), dando a ideia de
que estão trabalhando para composição de uma única história, que está sendo continuada à medida que seus dados são registrados.
Herman Ridderbos observa a forma como o
Novo Testamento (NT) completa o Antigo Testamento (AT) e em sua clássica obra, When the Time Fully Come[3]. Ele
descreve na análise de alguns eventos do NT e sobretudo em como eles são relacionados
ao AT no propósito de apontar para Cristo. G.K. Beale também faz o mesmo em A New Testament Biblical Theology: The
Unfolding of The Old Testament in the New[4],
pontuando os desdobramentos revelacionais do AT dentro de si mesmo, e como
trabalham para evidenciar o que de maneira culminante se apresenta no NT.
Essa forma de enxergar as Escrituras
contribui para o entendimento amplo e a certificação da unidade das Escrituras
mesmo em meio a sua diversidade. Quando estudamos TB, nossa proposta é que
estejamos com os olhos abertos para enxergar essa história que foi preciosa e
poderosamente elaborada e revelada, o progresso dessa revelação, seus
desdobramentos e o lugar do texto estudado nessa história, que tem sido
comumente nomeada, História da Redenção.
A Teologia Bíblica se ocupa
essencialmente da identificação de como os primeiros leitores foram acrescidos
pelos ensinos que lhes foram destinados, mas também como ocorreu acréscimo em
sua percepção teológica quando comparado ao que provavelmente fazia parte de
sua crença. Desta feita, para aquele que está ingressando nos estudos bíblicos
teológicos, fazer algumas perguntas é muito importante. Perguntas do tipo: Qual
é o lugar deste livro na História da Redenção? Como a Bíblia é acrescida por
ele? Ou como ela perderia se esse livro não estivesse no conjunto de livros da
Revelação?
Esperamos que os alunos estejam sempre
atentos ao que será tratado neste início e contato com essa disciplina.
[1] Refiro-me aqui ao curso de
Especialização em Teologia Bíblica, ministrado pelo Prof. Dr. Mauro Meister,
atualmente, diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.
[2] Vos procura fazer um apanhado
crescente, caracterizando a pressuposição basilar quando nos referimos ao
conhecimento teológico.
[3] RIDDERBOS, Herman. When the
Time Fully Come: Studies in New Testament. Toronto: Paideia Press. 1957.
[4] Esse livro já se encontra traduzido para o português, como Teologia Bíblica do Novo Testamento - A continuidade do Antigo Testamento no Novo (Vida Nova). Outras obras importantes sobre o tema desse mesmo autor são: Comentário do Uso do AT no NT (Vida Nova), O
uso do Antigo no NT e suas Implicações Hermenêuticas (Vida Nova).