Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus; (Ef 2:8).
Nunca
poderemos identificar a boa notícia da salvação para nossas vidas, sem antes
compreendermos a terrível notícia de que todos os homens estão perdidos. É
exatamente assim que o apóstolo Paulo inicia sua singela e preciosa epístola
aos crentes de Roma. De certa forma, Paulo informa a verdade que assola a
humanidade como um todo, e o cuidado de Deus para com seus filhos, os eleitos.
O
apóstolo lembra que, por causa do pecado, toda raça humana foi sentenciada à
morte e não há um sequer que possa escapar, por suas próprias forças, deste
julgamento. Ele chega a dizer, em Romanos, que o homem está destituído da
glória de Deus (Rm 3:23). No início do capítulo em que se encontra o texto que citamos,
vemos Paulo dizendo algo de natureza semelhante, informando a respeito da morte
causada pelo pecado e que por esta condição ninguém estava apto a responder
positivamente à graça. Ao contrário, éramos como fantoches nas mãos do príncipe
deste mundo, vivendo segundo os desejos da nossa carne (Ef. 2:2,3).
Por
isso, podemos compreender que o homem é refém de sua própria concupiscência, e
apesar de saber que seus atos se constituem em pecado, sua mente é incapaz de
fazê-lo superar suas tendências pecaminosas. O homem se afastou de Deus e tem nutrido essa inimizade com unhas e dentes, sentindo ainda por isso os
efeitos dessa queda. Estes efeitos afetaram também a
capacitação mental humana que fora fornecida por Deus à sua criação, ao que denominam efeitos noéticos da queda (vem da palavra grega nous - que quer dizer mente).
Um reflexo dessa esclerose pode ser visto no homem "moderno". Durante
muito tempo o homem buscou encontrar o sucesso para sua vida, por intermédio da razão. Contudo,
sua produção intelectual limitada não pôde proporcionar escape para seus
dilemas. O homem não conseguiu concluir e encontrar uma saída e ainda foi levado ao desespero por seus próprios caminhos. É neste tempo que vemos muitos,
na verdade, advogarem que a solução para sua vida era acabar com ela – dizendo que
isso era o escape de uma vida sem sentido. A constatação da falta de sentido na
vida, porém, é o resultado que o próprio Senhor os entregou, pois se tornaram
nulos em seus entendimentos, por não reconhecerem que o Ele é Deus – quando a
própria criação dá testemunho dessa verdade (Rm 1:18-32).
Mas,
a conjunção adversativa que aparece no texto aponta para a seguinte proposição “Deus
sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (Ef. 2:4), nos
mostra o real valor da graça. Pois estando o homem perdido, sentenciado e sem
esperança em si mesmo, Deus proporcionou, no descortinar de Sua grande revelação – com
a qual o pecado não pôde resistir - a resposta para os dilemas da humanidade. Jesus cristo venceu o pecado, o mundo e a
morte. Ele conquistou o direito, na cruz, da realização do restabelecimento da
criação de Deus à Sua presença. Implantou nos seus filhos, pelo Espírito Santo,
a verdadeira razão – a fé – com um instrumento cognitivo que os mantém cônscios
de sua dependência de Deus.
Esta
relação alerta-nos sobre a união que foi possibilitada e estabelecida em nós
pela vitória de Cristo na cruz do calvário. Ele nos uniu a Ele, de maneira que
o que fora dito aos discípulos “para que
onde eu estou estejais vós também” (Jo 14:3), pode ser plenamente percebido
nas Escrituras. A relação com Cristo foi estabelecida pelo Espírito Santo para
que, de maneira ininterrupta, vivêssemos em novidades de vida.
Por
essa união, podemos compreender claramente o que significa a informação que
Paulo fornece quando diz que “nos fez
assentar nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 2:6). Tudo isso tem
propósito bem específico e encontra sua resposta na propagação do Evangelho de
Cristo para evidência de Sua graça. Por essa revelação da bondade de Deus, que
é o próprio Cristo (Ef. 2:7), somos compungidos à vida segundo os Seus
mandamentos.
Não
há mérito em nós mesmos. Se fomos alcançados por Deus devemos entender que isso
se deu por motivo de Sua graça. Infelizmente, é uma pena que muitos não consigam
entender isso, porque seus corações ainda estão obscurecidos e não conseguem
contemplar a luz. Todavia, é motivo de extrema satisfação para os privilegiados
que entendem que “Se não fora o Senhor...” (Sl 124), nada em nossa vida faria
sentido. Não saberíamos por que necessitamos ser salvos, ou até mesmo para quê
sermos salvos.
As
respostas se tornam simples quando nosso raciocínio é vivificado, por meio da
fé. Por isso, sermos salvos porque éramos inimigos de Deus e estávamos indo
para o inferno, se constitui como um argumento bem plausível e real; bem como, sermos
salvos para viver em novidades de vida e apresentar ao mundo que Jesus Cristo é
o Senhor e ama o pecador arrependido, parece traduzir um bom sentido e
explicação ao motivo de nossa existência.
Concluindo,
não poderemos esquecer que o Autor da vida, o Criador do Cosmos, nunca faria
nada que não fosse, antes de qualquer coisa, resultado de Seu amor e
consequentemente um apontamento e manifestação de Sua Glória e Majestade. Nada é mais importante que Aquele que nos salvou, que deu sentido à nossa vida, que
nos amou, quando éramos por natureza filhos da ira. Somos gratos a Deus por nos
amar, por nos livrar e por nos fazer entender o que significa a essência de Sua maravilhosa Graça.
Glória
a Deus!