quinta-feira, 1 de maio de 2014

Fé e Graça

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; (Ef 2:8).

Nunca poderemos identificar a boa notícia da salvação para nossas vidas, sem antes compreendermos a terrível notícia de que todos os homens estão perdidos. É exatamente assim que o apóstolo Paulo inicia sua singela e preciosa epístola aos crentes de Roma. De certa forma, Paulo informa a verdade que assola a humanidade como um todo, e o cuidado de Deus para com seus filhos, os eleitos.

O apóstolo lembra que, por causa do pecado, toda raça humana foi sentenciada à morte e não há um sequer que possa escapar, por suas próprias forças, deste julgamento. Ele chega a dizer, em Romanos, que o homem está destituído da glória de Deus (Rm 3:23). No início do capítulo em que se encontra o texto que citamos, vemos Paulo dizendo algo de natureza semelhante, informando a respeito da morte causada pelo pecado e que por esta condição ninguém estava apto a responder positivamente à graça. Ao contrário, éramos como fantoches nas mãos do príncipe deste mundo, vivendo segundo os desejos da nossa carne (Ef. 2:2,3).

Por isso, podemos compreender que o homem é refém de sua própria concupiscência, e apesar de saber que seus atos se constituem em pecado, sua mente é incapaz de fazê-lo superar suas tendências pecaminosas. O homem se afastou de Deus e tem nutrido essa inimizade com unhas e dentes, sentindo ainda por isso os efeitos dessa queda. Estes efeitos afetaram também a capacitação mental humana que fora fornecida por Deus à sua criação, ao que denominam efeitos noéticos da queda (vem da palavra grega nous - que quer dizer mente).

Um reflexo dessa esclerose pode ser visto no homem "moderno". Durante muito tempo o homem buscou encontrar o sucesso para sua vida, por intermédio da razão. Contudo, sua produção intelectual limitada não pôde proporcionar escape para seus dilemas. O homem não conseguiu concluir e encontrar uma saída e ainda foi levado ao desespero por seus próprios caminhos. É neste tempo que vemos muitos, na verdade, advogarem que a solução para sua vida era acabar com ela – dizendo que isso era o escape de uma vida sem sentido. A constatação da falta de sentido na vida, porém, é o resultado que o próprio Senhor os entregou, pois se tornaram nulos em seus entendimentos, por não reconhecerem que o Ele é Deus – quando a própria criação dá testemunho dessa verdade (Rm 1:18-32).

Mas, a conjunção adversativa que aparece no texto aponta para a seguinte proposição “Deus sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (Ef. 2:4), nos mostra o real valor da graça. Pois estando o homem perdido, sentenciado e sem esperança em si mesmo, Deus proporcionou, no descortinar de Sua grande revelação – com a qual o pecado não pôde resistir - a resposta para os dilemas da humanidade. Jesus cristo venceu o pecado, o mundo e a morte. Ele conquistou o direito, na cruz, da realização do restabelecimento da criação de Deus à Sua presença. Implantou nos seus filhos, pelo Espírito Santo, a verdadeira razão – a fé – com um instrumento cognitivo que os mantém cônscios de sua dependência de Deus.

Esta relação alerta-nos sobre a união que foi possibilitada e estabelecida em nós pela vitória de Cristo na cruz do calvário. Ele nos uniu a Ele, de maneira que o que fora dito aos discípulos “para que onde eu estou estejais vós também” (Jo 14:3), pode ser plenamente percebido nas Escrituras. A relação com Cristo foi estabelecida pelo Espírito Santo para que, de maneira ininterrupta, vivêssemos em novidades de vida.

Por essa união, podemos compreender claramente o que significa a informação que Paulo fornece quando diz que “nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 2:6). Tudo isso tem propósito bem específico e encontra sua resposta na propagação do Evangelho de Cristo para evidência de Sua graça. Por essa revelação da bondade de Deus, que é o próprio Cristo (Ef. 2:7), somos compungidos à vida segundo os Seus mandamentos.

Não há mérito em nós mesmos. Se fomos alcançados por Deus devemos entender que isso se deu por motivo de Sua graça. Infelizmente, é uma pena que muitos não consigam entender isso, porque seus corações ainda estão obscurecidos e não conseguem contemplar a luz. Todavia, é motivo de extrema satisfação para os privilegiados que entendem que “Se não fora o Senhor...” (Sl 124), nada em nossa vida faria sentido. Não saberíamos por que necessitamos ser salvos, ou até mesmo para quê sermos salvos.

As respostas se tornam simples quando nosso raciocínio é vivificado, por meio da fé. Por isso, sermos salvos porque éramos inimigos de Deus e estávamos indo para o inferno, se constitui como um argumento bem plausível e real; bem como, sermos salvos para viver em novidades de vida e apresentar ao mundo que Jesus Cristo é o Senhor e ama o pecador arrependido, parece traduzir um bom sentido e explicação ao motivo de nossa existência.

Concluindo, não poderemos esquecer que o Autor da vida, o Criador do Cosmos, nunca faria nada que não fosse, antes de qualquer coisa, resultado de Seu amor e consequentemente um apontamento e manifestação de Sua Glória e Majestade. Nada é mais importante que Aquele que nos salvou, que deu sentido à nossa vida, que nos amou, quando éramos por natureza filhos da ira. Somos gratos a Deus por nos amar, por nos livrar e por nos fazer entender o que significa a essência de Sua maravilhosa Graça.


Glória a Deus!