quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mensagem de Natal a uma Sociedade Pós-Moderna

            Este é um período no qual sempre vivemos um perfeito paradoxo. Buscamos dinheiro somente para satisfazer nosso desejo de comprar. Como diria o humorista George Carlin, “gastamos mais, mas temos menos...compramos mais, mas desfrutamos menos...”. Em um tempo de valorização fútil, onde você é o que você pode comprar, as pessoas gostam de exibir a beleza pela janela de sua casa, mas desejam esconder a tristeza em que fica sua despensa nos meses subsequentes.
            Não há nada tão resplandecente e tão solucionador para a humanidade do que o símbolo do Natal. No entanto, seu significado tem sido constantemente associado a um velhinho de barba branca, com uma barriga sobressalente e sua sacola de brinquedos. Não é incomum ver crianças se alegrando nesta época, pois está chegando a hora do “bom velhinho” se lembrar delas. É fácil entender o que significa o Natal para essas pessoas. O que não é fácil é conceber como algo que simboliza o grande amor de Deus pode ser tão naturalmente esquecido.
            Este texto simboliza um esforço de fazer-nos compreender o real significado do Natal para nós. Recomendo também, uma pregação do Dr. John MacArthur que fala sobre o mesmo assunto[1]. Nesta pregação, realiza um contraste teológico entre o que é Natal para nossa sociedade e o que realmente significa Natal, de acordo com as informações de Paulo em sua epístola aos Filipenses.
            Pretendo me utilizar deste mesmo capítulo e fazer algumas análises no mesmo trecho (Fp 2:5-11), e ratifico que este trecho resume apropriadamente tudo o que precisamos saber sobre o real significado do Natal. O Natal é para nós o que significa a pessoa de Cristo para a humanidade, consequentemente o que a Bíblia nos informa que isso significa como ápice da revelação de Deus à humanidade.
            Antes, porém, precisamos refletir sobre alguns aspectos que norteiam nossa sociedade. Vivemos em um período onde a pós-modernidade determina que o ser mais importante da face da terra é aquele que você contempla ao olhar pelo espelho. Todos os esforços que são empenhados nos dias atuais se dão para que não haja mais nada que seja caracteristicamente errado de nossa parte. A tentativa de fazer ídolos, no entanto, remonta os primórdios da sociedade e principalmente, o homem em sua obstinada vontade de cultuar a si próprio.
            Não é por acaso que encontramos as bilheterias lotadas quando se vislumbra a história de um novo herói. Afinal, todos se identificam com o herói, acreditando que os intentos do coração através de atos simples ou até mesmo heroicos podem redimir toda uma sociedade. Isso leva-os a preconizar uma mensagem que não deixam ser perdida ou esquecida, como aquela que é passada no filme-desenho Rise of the Guardians (A origens dos Guardiões). Os heróis precisam ser acreditados, pois quando deixam de crer na realidade dos sonhos destes heróis só lhes resta o medo.
            Coincidentemente, uma das figuras centrais deste filme e que convoca todo o grupo para o combate ao “Bicho Papão”, que tenta sobrepujar os heróis infantis à descrença, é o “Papai Noel”. A convocação invoca também Jack Frost – que se tornou herói por se sacrificar por sua irmãzinha, mas por seu compromisso consigo mesmo e suas brincadeiras, é alvo de descrédito tanto dos heróis quanto das crianças, e por isso elas não o veem.
O filme conta de como um herói desacreditado pelas pessoas é conduzido, de desprezado, a ser o principal nesta guerra contra “as forças do mal”. O momento de conflito ao personagem principal (Jack Frost) é quando ele é confrontado com sua própria razão de ser. Pois, já que não era adorado pelas crianças por não acreditarem nele, poderia pelo menos sentir-se real se fosse temido se unindo ao “Bicho Papão”. Sua opção em manter-se fiel aos princípios “divinos” que o levaram até aquela condição de imortal, o fizeram batalhar pelos heróis que estavam perdendo sua natureza por estarem chegando a condição de desacreditados assim como ele.
Interessantemente, o filme mostra nas entrelinhas que a motivação destes heróis era, em ultima instância, alegrar as crianças principalmente para que o crer delas os mantivessem vivos. Impossível não associar o filme ao existencialismo, onde a crença associada às ações de alguém determina o sentido de uma vida aparentemente sem explicação, como era o caso do jovem Jack Frost.
            Apesar de ser um desenho, crianças e adultos do mundo inteiro já tiveram pelo menos contato com sua mensagem. E como disse Godawa em seu livro “Cinema e Fé Cristã”, seria muita ignorância da parte dos que chama de “glutões da cultura”, acreditar que não há nenhum sentido por trás da história de um filme. Na verdade “todos eles retratam uma forma de redenção na visão de mundo que possuem”. Neste caso pode ser bem simples como, “a felicidade de uma criança depende dela mesma, basta acreditar” ou “Já temos os heróis que precisamos para sermos salvos do medo”.
            Pensando nisso, vemos uma geração de filhos sendo criados sobre perspectivas ilusórias de redenção, a despeito da verdadeira necessidade da humanidade. As histórias movimentam nossa sociedade desde que o homem é homem. É desta forma que gerações foram alcançadas e suas visões de mundo foram transmitidas a outros. Ignorá-las é, na verdade, deixar de perceber que isso faz parte da natureza humana. O mundo é composto por histórias. O próprio Deus utiliza a história para redigir a Sua própria, revelando-Se a humanidade.
            Somos tão propensos a nos envolver com uma boa história, principalmente, com aquelas que são baseadas em fatos reais, que podemos perder horas debruçados nelas. No entanto, o fato de não lermos as histórias com a visão de mundo que completa, responde e dá sentido à nossa existência, nos distancia da compreensão da verdadeira história da humanidade.
            Apenas o cristianismo responde e atende plenamente a demanda de nossos porquês. E isso não é um sistema de crenças diante de uma maioria dominantemente cristã. O escritor inspirado, apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, retrata o estado da humanidade, fornecendo perfeitamente o que a levou a tal estado deplorável:

Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; (Rm1:18-24).

            Todas as tentativas humanas de buscar sentido em si mesmo, independente de Deus, revelam o principal obstáculo dos homens à compreensão satisfatória de sua identidade. Pois, é uma constatação inevitável, a identificação de um ser ordenado e organizado por trás de toda criação. Este conhecimento foi algo implementado no homem, como criatura de Deus, pelo próprio Deus. O não reconhecimento do que os americanos chamam creatureliness (condição de criatura), e da clara associação ao entendimento da dependência de Seu Criador é, segundo o apóstolo Paulo, o que leva a humanidade ao estado em que se encontram.
            Por isso, o retrato de uma sociedade que busca com empenho substituir o que realmente é divino por correspondentes humanos, não se trata de uma tentativa inocente de alegrar algumas crianças, mas é descrita nas Sagradas Escrituras como uma rejeição à estrutura naturalmente estabelecida por Deus para o homem. Todos, fomos gerados à imago Dei e resplandecemos essa essência. Não poderemos alterar nossa essência por mais que tentemos, antes apenas, conseguimos nos distanciar cada vez mais de chegarmos ao conhecimento do que realmente nos faz sentido.
            No texto de Filipenses 2:5-11, lemos sobre a essência do Natal, na pessoa de Jesus Cristo. Pois, em seus valores fundamentais, o natal simboliza a alegria do nascimento do Filho de Deus, cuja vida, morte e ressurreição, possibilitou à humanidade a restauração da comunhão com Deus, que havia sido afetada pelo pecado, desde Adão. O sacrifício vicário de Jesus Cristo, o Seu único Filho, foi o único elemento capaz de aplacar a ira de Deus.
            Contudo, a descrição realizada em Fp 2:5-11 demonstra o que isso significou para o próprio Filho de Deus. Como disse, o Natal é para nós o que Ele significa para nosso Senhor. E a isso, devemos nos assemelhar, desta forma que devemos viver. Por este motivo, o apóstolo Paulo começa falando aos da igreja de Filipos que estivessem atentos ao modo de vida que o conhecimento desta realidade deveria lhes conduzir.Tendes o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus...”.
            A partir daí, é descrita a realidade humilhante a qual o Filho de Deus se submeteu voluntariamente. Jesus Cristo declara a si mesmo, na oração do cenáculo, que havia se santificado, identificando não alguém que necessitasse ser purificado, mas aquele que devotara sua vida para o exercício da vontade de Deus, seguindo até a morte. Por isso, “sendo em forma de Deus, não considerou ser igual a Deus; antes tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens (...) humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
            O Natal simboliza a intervenção do próprio Deus na história de Seu povo. Deus, por intermédio de Cristo Jesus, realizou Sua vontade para a humanidade, fornecendo-lhes a oportunidade de serem redimidos. Mas, seria incompleto de nossa parte dizer que a vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo se resumem em fornecer-nos a salvação. O propósito maior se volta para a exaltação do nome do Senhor Jesus.  Não podemos atribuir outro significado à intervenção de nosso Deus na história fora do que é descrito nas próprias páginas de Sua revelação.
            A continuidade do texto nos faz perceber a verdade significativa. “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. A vinda de Cristo não traz outro propósito senão a exaltação do Seu próprio nome, para que por intermédio Dele a vida eterna fosse fornecida.
            O Natal é mais do que a lembrança de uma época de comprar e dar presentes. É mais do que a apresentação falsa de um velhinho que possa realizar sonhos de crianças carentes. É, na verdade, a oportunidade de fornecer aos carentes o perfeito significado desta data. Que Jesus Cristo, nasceu, viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus para que Seu nome fosse exaltado acima de todos os nomes, em todo o cosmos, sendo suficientemente apto ao fornecimento da vida e restauração da comunhão da criação com Seu Criador.
            Isso tem valor completo e realiza o verdadeiro sonho “inconsciente” de uma humanidade que estava em total inimizade para com Deus, trazendo-a de volta ao seio desta comunhão projetada desde antes da fundação do mundo. Esta é a mensagem de natal para os nossos dias. Esta é a dádiva que precisa ser constantemente refletida, pois é a única que soluciona o dilema de uma geração desorientada em suas tentativas autônomas de se redimirem por suas próprias forças.
            O cristianismo responde plena e cabalmente os porquês íntimos do homem, chegando ao âmago do problema, o coração. Convocando-o ao correto posicionamento do centro de Sua adoração, direcionados exclusivamente a Deus, por Cristo. Quando levados a essa realidade, a satisfação deixa de ser ilusória e a união com o próprio Deus estabelece o ápice daquilo o que pode se desejar, na representação do que sequer poderia ser imaginado. Por isso, sabiamente, refletiu o apóstolo; As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam”.
           O Natal é a celebração do amor de Deus, que por intermédio Seu Filho restaura a Sua criação, para Sua própria glória.




[1] http://www.youtube.com/watch?v=y3OfaIoueJY&hd=1

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Busca de Nossa Satisfação

A convivência com as pessoas é sempre um misto de desafios e pensamentos. Acredito que ninguém é sequer semelhante ao outro, em sua estrutura física ou em suas ideias. Ainda que intimamente próximos, temos convicções completamente distintas daqueles que nos cercam, o que ratifica o verdadeiro desafio de conviver com outras pessoas. Percebo isso até mesmo em meus filhinhos, que fizeram 8 anos em julho deste ano (2013). Eles são gêmeos e nasceram da mesma placenta. A diferença entre os dois, no entanto, é notória. Inclusive na escolha do time do coração: um Flamengo e outro Vasco. Bem, poderemos falar disso em outra ocasião...
Minha fala, entretanto, aponta que, não obstante, percebamos aquilo o que nos diferencia da sociedade, temos, porém, uma baita de uma semelhança. Algo com o qual nem tentamos lutar. Ao contrário, nos dias atuais, as pessoas parecem nutrir essa equidade chamada busca pela satisfação própria. Quando digo isso, me refiro às convicções que produzem satisfação ao nosso ego. Esta é uma palavra grega que significa o pronome pessoal, eu. Felizmente, não há nenhuma novidade ou demérito em alguém que procura lograr êxito em suas realizações. Todos, buscamos e queremos nos sentir realizados. Sentir que somos importantes, e que algum dia quando morrermos alguém sofrerá nossa falta, por amor a nós. O que há de errado nisso?
 Na verdade, isso também aponta para a semelhança estrutural do ser humano. Como criaturas de Deus, fomos feitos para amar e sermos amados. Nosso amor primordialmente nos foi comunicado para ser exercido de maneira absoluta a Deus, e sendo refletido também em nossos semelhantes. Por isso, Jesus, sintetiza a lei em dois grandes mandamentos “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; e [o outro semelhante a este,] amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt. 22:37,38; Mc 12:30,31; Lc 10:27,28). Contudo, como bem sabemos, no evento denominado “a Queda”, o ser humano se desviou do padrão elementar de Deus para ele.
O coração, que é chamado pela Bíblia lugar de onde “procedem as fontes de vida” (Pv 4:23), foi diretamente atacado pela sedição de ser igual a Deus (Gn 3). Chamamos isso, a origem de todos os pecados. O amor que deveria ser “absolutizado” em Deus, agora é destinado ao próprio homem. Não conhecemos bem como era o homem em suas tendências pré-queda, mas este segundo é bem familiar. É possível ver, no decorrer da história, como os homens se tornaram peritos na busca pela satisfação própria, se unindo a outros, apenas, quando isso lhes traria algum benefício. Tudo o que se buscava, apontava para suas “razões” ou suas “verdades”.
Por certo, esta atitude encontra seu fundamento neste evento (Queda). Após isto, não é mais possível ao homem retornar ao estado original sozinho. É impossível para ele sair deste dilema, até que a graça redentora de Cristo Jesus o alcance, regenerando-o pelo Espírito, restaurando a ele a possibilidade do empenho de seu amor a Deus novamente. Todavia, ainda sim há uma luta interna no homem contra aquilo o que chamamos carne. Ele ainda briga com seu “ídolo maior”.
O professor Ms. Fabiano de Almeida Oliveira, disse em uma de nossas aulas: “Após a queda, o maior ídolo do homem é ele mesmo. Ainda que pequenos ídolos surjam como, estabilidade financeira, estética, sustentabilidade, todos se relacionam com o principal deles, o eu”. O problema é que quando “absolutizamos” o nosso eu, colocando-o em primeiro lugar, quem quer que se oponha a isso, se torna alvo de deflagração de nossa ira, ainda que isso nos custe caro. Um exemplo disso são os chamados kamikases, que entregavam suas próprias vidas em defesa de sua nação. Aparentemente, uma causa nobre, mas o conhecimento intrínseco que revela a identificação da superioridade objetivada pela nação japonesa, revela seu ídolo maior, o eu.
O mais interessante é que no cerne de tudo isso, estava o bendito do conhecimento. Devemos lembrar que a mulher desejara ser como Deus, e cuidadosamente após isso, lemos, “conhecendo o bem e o mal” (Gn 3:5b). A história também mostra, principalmente após os pensadores filosóficos, como o conhecimento (“absolutizado” pela razão) efetivou a parceria definitiva com o homem, neste processo de auto-idolatria. E isso, de maneira bem sutil, vem se tornando o maior dos problemas de nossa sociedade. Mesmo entre os cristãos, podemos ver traços fatais desta realidade.
Não é difícil ver pessoas que não olham o ensino da Palavra, que aponta para Cristo, como única fonte de libertação para nossas mazelas. Estão sempre procurando caminhos que lhes tragam satisfação própria, pessoal. Querendo ser oportunizadas, como dotadas do chamado de Deus, e denominando-se “impedidas” por homens. Na verdade, o desejo é o mesmo do velho homem: “quero que as pessoas saibam que eu também sou”. Não deveríamos esquecer que se o Senhor nos chamou, ele o fez exclusivamente para um motivo, sermos para louvor da glória da sua graça (Ef 1:6).
Se o motivo de nossas preocupações é demonstrar ao mundo que somos chamados por Deus, por que não o fazemos nas ruas? Por que não visitamos os doentes? Certamente, há bastante deles que estão aguardando uma Palavra de Deus para suas vidas. Mas, parece que isso não é tão agradável. A quem? Ao eu! Ele deseja ser visto, ser suprido idolatricamente. Constatar isso pode não ser fácil. Pois, é possível tecer textos em redes sociais que agridem as pessoas que são apenas reflexões públicas caracterizadas como liberdade de expressão. Mas, quando trocamos nossa visão de mundo para uma cosmovisão tipicamente Bíblica, percebemos que esta era, na verdade, mais uma necessidade egoística de satisfação própria.
Devemos muito cuidar para que, uma vez regenerados pelo Espírito, prossigamos em nos esvaziar do velho homem (Ef. 4:22). Se nossa satisfação, mesmo sendo chamados cristãos, ainda se torna plena à base de elogios, exibições, adeptos à nossa causa (humanística), é fato que estamos amando nós mesmos no lugar onde deveria estar nosso Criador.
Paulo afirma do propósito de Deus ter nos resgatado em Cristo, quando diz aos efésios:
Para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos delitos, segundo as riquezas da sua graça, que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra,” (Ef. 1:6-10).
Essa dádiva claramente indica a ausência de mérito humano, mas uma realização proposicional de Deus bem definida. Toda sabedoria e prudência que recebemos, é oriunda de Deus, e somente por Cristo podemos conhecer Sua vontade. Deus se manifestou na história para proporcionar a libertação ao homem. Fazendo com que ele finalmente entenda de onde provém o suprimento de suas necessidades.
A satisfação plena do homem não é atingida pelos seus desejos egoístas, sua saciedade só se dá quando vive de acordo com sua estrutura original, que aponta para a adoração a Deus sobre todas as coisas, de maneira absoluta. Esse conhecimento faz o homem, de uma vez por todas, identificar a si mesmo. Foi assim que os homens citados na Bíblia se tornaram referenciais a serem seguidos.
Os homens que realmente tiveram experiências de íntimo conhecimento de Deus puderam também conhecer a si mesmos. Por isso Jó disse, “Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e cinza...” (Jó 42:6); o salmista declarou: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a teu nome dá glória...” (Sl 115:1); Isaías proferiu: “Ai de mim, pois estou perdido...”(Is 6:5); Jeremias ratificou: “Ai de nós, porque pecamos...” (Lm 5:16); Esdras enfatizou: “Ó meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar meu rosto a ti, meu Deus;” (Ed 9:6).
Desta feita, podemos analisar que se vivermos desta maneira perceberemos que não estamos em um processo de aquisição de títulos de quem é superior aos outros, ao contrário, constataremos que o sucesso de nossa busca se dá naquilo que nos conduz à percepção de que devemos ser reconhecidos apenas como servos. Pois, o Soberano, Absoluto e Superior, a Bíblia já tem nos apresentado quem é. A ele devemos buscar em primeiro lugar.
Assim, temo que alguns cristãos nos dias atuais, estejam se equivocando, não percebendo a essência de algumas ações:
Por exemplo, se algum dia pensarmos que o lugar onde estamos já não é mais suficiente para nós, seria ideal analisar se nossa saída não está sendo motivada por um desejo egoísta de sermos reconhecidos como supostamente não fomos, onde estávamos. Isso pode ser comprovado em um simples sentimento, traduzido em uma "liberdade de expressão". Sendo líderes e chegamos à conclusão que falta espaço para nossas pregações ou ensinamentos, por isso saímos; sendo membros e saímos porque o pastor parece ter me “destratado” – não fazendo aquilo que gostaria que fosse feito; ou ainda, se busco um lugar onde “(a) o irm(ã)o fulan(a)o não está...” Quais seriam as justificativas destas motivações???
Existem cristãos hoje que parecem ser experimentadores de denominações, pois já podem recomendar quase todas, por seu vasto conhecimento empírico delas. Acho que esquecem que Jesus tem uma só igreja e é a Igreja do Deus Vivo, a coluna e baluarte da Verdade (I Tm 3:15). Nossa preocupação deve ser atender as palavras de Deus, que declara: “Em todo tempo estejam alvas as tuas vestes...” (Ec 9:8); Também o que mais uma vez mencionamos, provérbios 4:23, "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida".
Nossos pecados não estão escondidos de Deus, se é que pensamos isso. Entretanto, Ele está sempre pronto a perdoar um pecador arrependido, pois um coração quebrantado e contrito, o Senhor não rejeitará, disse Davi (Sl 51:17). Aí descobriremos, cabalmente, que nossa satisfação plena consiste na vontade de nosso Senhor. E estaremos aptos a aprender Dele o que temos que aprender. Cuidemos para que nosso status de crente não seja manchado pelo prazer secularizado, travestido na busca de um espaço, que na verdade só revela a necessidade da satisfação de nós mesmos, da nossa razão, do nosso eu.


Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Por que Deus permite o sofrimento?

Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou”. (Jó 1:20)

Quando o sofrimento bate a nossa porta, naturalmente, perguntamos: O que fiz para merecer isso? Por que isso está acontecendo? E sem obter nenhuma resposta, a conclusão sempre resulta em um sentimento de que estamos sendo injustiçados. Os ateus se utilizam deste argumento para encostar os crentes na parede (não me refiro a evangélicos) dizendo, se existe um Deus por aí, onde ele está quando estamos passando por situações de sofrimento intenso?

O Dr. Donald Carson inicia uma de suas palestras (How Could a Good God allow suffering?[1]) dizendo, “Se você viver tempo suficiente, você irá sofrer... A única coisa que poderá impedir você de sofrer é não viver o suficiente”. O exegeta expõe que esta é uma realidade que não é somente questionada ou enfrentada pelos que se chamam cristãos, mas por todos os seres humanos. Ele declara que não é possível produzir resposta satisfatória para o motivo do sofrimento. Mas, apresenta aspectos que nos remetem ao controle do Deus Todo-Poderoso e a implantação de Sua pedagogia nos seres humanos. Alguns se beneficiam quando têm conhecimento, outros, simplesmente não conseguem alcançar.

A história de Jó sempre nos remete a questionamentos desta natureza. O sofrimento dele parece algo inexplicável, algumas vezes entendido como um desafio entre Deus e Satanás. Não obstante, ter sido o próprio Deus, a fazer referência à postura íntegra de Jó: “Observaste o meu servo Jó?”. O questionamento realizado por Satanás, segundo o Dr. Daniel Santos, é algo semelhante a “Porventura teme Jó a Deus em troco de nada?”. Se analisássemos somente o primeiro capítulo, diríamos, essa parece ter sido a razão para que Deus permitisse a efetivação das tragédias na vida de Jó. No entanto, quando lemos todo o conteúdo do livro, um propósito maior está implícito.

Jó não foi capaz de compreender porque tudo aquilo havia acontecido em sua vida. E o texto demonstra que não era isso que ele deveria buscar, quando com uma boa seção de perguntas, Deus lhe mostra que Suas ações não demandavam explicações aos seres criados por Ele. Dentre os grandes aspectos pedagógicos do livro de Jó, poderíamos encontrar algo pertinente aos seus primeiros leitores, se entendessem que nem todo sofrimento é decorrente de uma atitude pecaminosa consequencial. Por isso, alguns trechos do livro são por demais delicados.

No capítulo 5, um amigo de Jó (Elifaz), apresenta a ele sua teologia, dizendo, em outras palavras, que Jó deveria aceitar aquela “correção” de Deus, indicando que provavelmente havia algo em oculto que somente Jó e Deus sabiam. Assim, estava recebendo a devida punição por isso. Jó então declara que Deus teria todo o direito de fazer de sua vida o que quisesse, mas em suas afirmações, enfoca também que o próprio Deus era testemunha de sua integridade. A consciência do controle de Deus era plena na vida de Jó, no entanto, as palavras de seu amigo não eram adequadas. Muito embora, em primeira instância, todos os homens herdaram a natureza pecaminosa de Adão. Mas, o que está implícito aqui é a consequência imediata de algum pecado.

Não poderemos identificar a grandeza da atitude de Jó, nem atrair para nós seu ensino, se não visualizarmos o quão foi doloroso para ele ter que passar por tudo o que passou. Neste ponto, já parece evidente que não obteremos resposta satisfatória para o questionamento levantado no título desta postagem. Contudo, os ensinamentos contidos neste pequeno versículo servem-nos de consolo e também fornecem a fonte da esperança e subsistência de Jó. Pois, é notório que, pela atitude de Jó, este foi o pior episódio com o qual fora confrontado em toda sua vida. Somente alguém que não se atenta aos detalhes do texto, poderia dizer que para Jó foi tranquilo ouvir, em um só dia, a tragédia de suas perdas.

Algo tão doloroso para ele havia sido aquele episódio. Ao passo que ele se levanta, rasga suas vestes, raspa sua cabeça, indicando sua condição emotiva face ao ocorrido. Essas ações indicam tristeza profunda, angústia, humilhação e luto. Não há possibilidade de que esse fato não tenha sido profundamente doloroso, tornando um pouco mais fácil a atitude de adoração de Jó. Ao contrário, pelas circunstâncias envolvidas, todas as áreas da vida de Jó, foram profundamente afetadas.

A justificativa para a atitude de Jó, porém, é esclarecida em suas próprias palavras. No verso subsequente, lemos: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; Yahweh deu e Yahweh tirou; bendito seja o nome de Yahweh.” (v.21). Jó tinha a consciência de que tudo quanto possuía havia sido dado por Deus, consequentemente, entendia que o mesmo que deu, sem que ele sequer merecesse tamanha dádiva, poderia tirar quando e como bem desejasse.

Ontem, conversava com meus alunos do 3º e 5º período do curso de Bacharel em Teologia no STO, e trouxe a eles este texto para nossa reflexão. Dentre nossas observações, notamos que este homem possuía um senso de que havia recebido muito mais do que merecia. O           que nos levou a uma clara constatação acerca de sua integridade. No texto, duas percepções são evidentes: a integridade de Jó e sua confiança em Deus. Apesar de alguns dicotomizarem os assuntos, creio que ambos estão intimamente ligados neste trecho. De maneira que a integridade de Jó é notável por sua própria confiança e certeza de que sobre a mão de Yahweh está o controle de todas as coisas.

O texto parece indicar que Jó recebe referências do próprio Deus sobre sua integridade e atitudes corretas para com Yahweh, porque ele tinha consciência da soberana mão de seu Senhor para direcionar a vida de seus súditos. Parece ser isso que leva o autor à fatídica conclusão: “Em tudo isso não pecou Jó, nem atribuiu a Deus falta alguma” (v.22). Quando seria natural do ser humano questionar: Por que eu? Por que isso está acontecendo comigo? O que eu fiz para merecer isso?

Repetimos que Jó, nem ao final do livro, compreendeu claramente por que as coisas que aconteceram em sua vida se sucederam desta forma. Todavia, o grande ensinamento que o livro de Jó parece traduzir, ao próprio personagem, é que tudo aquilo o que era crido por Jó, pôde ser experimentado para produzir verdade à sua própria fé. Deus proporcionou a Jó um meio de que sua fé fosse provada e aprovada para ratificação de sua condição de conscientemente dependente de Deus.

As tragédias enfrentadas por Jó o levaram à condição de alguém que tem a certeza de onde está firmada a sua fé. Bem, como efetivaram sua dependência do Deus Yahweh, em todos os aspectos de sua vida. Isso o levou ao grau de ser referenciado como bem-aventurado e ter sua paciência citada como um exemplo de que Deus pode agir com misericórdia e compaixão para com os seus (Tg 5:11).

Seria pertinente compreendermos que Deus tem um plano até mesmo em nosso sofrimento. As diversas etapas com as quais somos confrontados, se possuem relação de ratificação da nossa fé, são como o apóstolo Paulo declara, produtores de um “eterno peso de glória” (II Co 4:17). Jó obteve bom proveito de suas provações, chegando à conclusão que isto lhe proporcionou um conhecimento visual de Seu Senhor, “mas agora, te vêem os meus olhos” (Jó 42:5). A referência é claramente a um conhecimento mais preciso do poder que Seu Deus possuía para comandar os estágios de sua vida.

Perdemos tempo questionando por que Deus faz isso, ou permite aquilo, quando poderíamos buscar: O que Deus quer me ensinar com isso, ou com aquilo que Ele fez ou permitiu acontecer. Quem sabe, não chegaríamos ao estágio a que Jó foi levado, em uma profunda humilhação que lhe proporcionou finalmente o conhecimento de si mesmo.

Talvez este seja o grande intento de Deus, na deliberação das dificuldades que se apresentam em nossas vidas. Deus deseja que conheçamos quem Ele realmente é (Soberano), e consequentemente, quem nós somos. Ao que Jó declara: “Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza”. (Jó 42:6).

Que o Senhor nos ajude!




[1] Vídeo disponível no Youtube. http://www.youtube.com/watch?v=U21MquBWfag

sábado, 31 de agosto de 2013

O que estamos fazendo?

Existem atitudes que deveriam nos remeter a pergunta supracitada: O que estamos fazendo? Um grande exemplo disso estaria ligado ao momento em que adoramos ou louvamos a nosso Deus. Lembremo-nos que o culto é, antes de tudo, a Deus. É a Ele que rendemos toda nossa gratidão, expressão de louvor, em adoração. No entanto, estas coisas parecem não estar tão claras em nossa prática. Um exemplo disso é exibido brevemente abaixo.

Gostamos tanto de entoar louvores que expressam acerca da soberania de Deus: "Nosso Deus...é Soberano. Ele reina antes da fundação do mundo...". No entanto, será que compreendemos o que significa cantar isso? Estamos dispostos ao verdadeiro aprendizado do que representa o Deus que tudo governa? Qual seria o Seu limite? Ou será que o servimos apenas lhe colocando algumas algemas, que regulam suas ações ao nosso senso racional? Parece que não sabemos tanto ou nada sobre esse Deus mesmo...temos apenas noções. Noções de que Ele é Amor, o Perdão, a Vida, o Caminho...e outras coisas boas... Contudo, e quando os textos das Sagradas Escrituras nos mostram Sua severidade quanto aos réprobos, qual é a nossa avaliação? Seria esse o Deus que almejamos? O Deus que servimos?

Mas, espera aí! Deus é quem tem que ser como nós almejamos ou nós devemos ser como Ele deseja? Quem é o Soberano? Acredito que os cristãos contemporâneos tem confundido as coisas. Pensam em Deus como um amuleto, mas não com a real implicação do que significa dizer que Ele é o Senhor. Para aqueles que poderiam ficar pasmados com a exposição plena do cristianismo, aos Romanos, devemos deixar com que o autor inspirado fale:
 
Diz o apóstolo Paulo: 
"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?
E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;
Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou." (Rm 9:20-23)

Será que cantamos a verdade em nossos lábios ao dizermos..."Nosso Deus...é Soberano...". O que estamos fazendo? Acredito que nossa limitação não pode nos impedir de orar segundo a nossa real necessidade. Senhor! Carecemos de ti! Somos totalmente dependentes! Faz-nos entender os Seus mistérios...se esta for a Sua vontade...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Crescendo em Santidade

A santificação consiste na renúncia de nossa vontade em relação a vontade de Deus e em relação a dos homens (próximo), pois sua evidência está no exercício das boas obras, que são expressas nos mandamentos do Senhor (Amarás a Deus...e Amarás ao teu próximo...). Podemos, com isso identificar bons critérios para verificação de nosso avanço como servos (embora a palavra original remeta-nos a ideia de escravos - douloi tou Christou) de Cristo.

O quanto estamos dispostos a abrir mão para exercício de Sua boa vontade? Queremos nos apresentar como santos diante de Deus e isso é de fato uma ordem (Rm 12), mas será que nos disponibilizamos a amar a Ele acima de toda e qualquer coisa em nossa vida? E com relação aos nossos irmãos, ou melhor diria, nosso próximo?

Jesus demonstrou bem quem é o nosso próximo e não são aqueles que podem nos trazer algum benefício, mas sim, aqueles que estão dispostos a ouvir a voz do Senhor (Lc 15 - nessa parábola...publicanos e pecadores). Aqueles que estão necessitados ainda que sejam desconhecidos (Lc 10:25-37 - nessa, um judeu é cuidado por um samaritano). Devemos amar de maneira incondicional essas pessoas, levando-as ao encontro com o Evangelho Puro e Simples. Evangelho que apresenta Jesus Cristo como substituto pelos pecados de todo aquele que crê, para fornecer-lhes a vida eterna.

Entender que ninguém chegará ao céu desprovido de santidade é compreender as Palavras do autor aos Hebreus “Segui a paz com todos e a Santificação, sem a qual ninguem verá o Senhor” (Hb 12:14). Palavras que também foram utilizadas por homens de Deus, em nosso tempo, como as do Bispo inglês J.C.Ryle em seu livro Holiness (Santidade):

"Apelo solenemente a todos quantos lêem essas páginas: como poderemos nos sentir felizes e à vontade no céu, se morrermos destituídos de santidade? A morte não opera automaticamente alguma transformação. O sepulcro não impõe qualquer alteração. Cada indivíduo haverá de ressuscitar com o mesmo caráter com que deu seu último suspiro. Onde será o nosso lugar, se vivermos hoje estranhos à santidade?"

Se somos verdadeiros cristãos, é tempo de abandonar uma vida que não esteja em conformidade com a Palavra de Deus, renunciarmos o nosso eu e dedicarmo-nos ao exercício da vontade soberana de nosso Senhor. Esta, que foi expressa em sua preciosa mensagem consiste em “que amemos uns aos outros” (1 Jo 3:11). Abandonando toda inveja, todo orgulho e revestindo-nos de humildade no temor de Deus (Ef 5:21).

O que devemos esperar?

João 12:1-11

A atitude de Maria, neste texto, nos ensina que o serviço daqueles que são extremamente gratos ao Senhor não se baseiam em alguma expectativa futura. Ao contrário, eles o servem por aquilo o que já receberam.

Maria derrama um óleo extremamente precioso aos pés de Jesus, demonstrando não estar apegada às coisas deste mundo. O texto em si não exemplifica o motivo de tamanho sacrifício, no entanto, o contexto apresenta que nos dias anteriores Jesus havia ressuscitado seu irmão, Lázaro. Assim, com tamanha gratidão, ela derrama aquilo o que poderia ser o mais valioso elemento naquele lugar.

Será que vivemos nossas vidas aguardando algo que o Senhor Jesus possa fazer a nós, para que então o sirvamos intensa ou radicalmente? A atitude daqueles que esperam receber algo do Senhor em troca de seus serviços expressa a profunda ingratidão daqueles que não valorizam Seu sacrifício.

É preciso compreender, de uma vez por todas, que não servimos a Cristo por aquilo o que Ele pode nos dar, mas sim por aquilo o que Ele já fez por nós. Dessa forma, repito a fala do Rev. Barry King: "God has done so many things for us that if He never did anything else He has already done enough for us to serve him forever."

Deus já fez tantas coisas em nossa vida que se daqui pra frente Ele não fizer mais nada, ele já terá feito o suficiente para o servirmos para sempre!

Paremos de aguardar o ADVENTO de algo miraculoso, quando já somos (por termos sido vivificados por Ele) o próprio MILAGRE!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O quanto ganharíamos com a consciência da Soberania de Deus?

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Rm 11:33

Após uma perfeita descrição da teodiceia[1] aos romanos, o apóstolo Paulo exalta ao nome do Senhor, através das palavras que se iniciam neste versículo. Entendendo como é confortante saber que pecadores imerecedores da graça de Deus foram alcançados por Sua misericórdia. Esta dádiva promove grande alegria nos corações dos que foram tocados pelo Espírito. Somente eles conseguem identificar o quão carentes dessa glória estavam, pois conhecem claramente o quão pecadores são. 

Mas, até que fossem alcançados pelo Espírito, isso não lhes estava tão claro. Alguns se enveredavam por caminhos onde a depravação era o seu norte. Não tendo limite para seu único progresso particular, a excelência em pecar. Até que ao caírem as escamas de seus olhos, percebem a tristeza de sua companhia malévola, tão insistente em nutrir a inimizade contra Deus. E ao mesmo tempo, percebem a pureza do sangue de Jesus vertido por aqueles que ainda estavam sobre a mesma condição (Rm 5:8).

Quão insondáveis são os seus juízos! Eterna dívida de gratidão têm os que foram alcançados por essa graça. Por isso, a única medida racional é apresentar a “totalidade daquilo o que são” (no grego - ta sōmata humōn) como “sacrifício vivo, santo e aceitável a Deus” (Rm 12:1). E em sua nova atitude ainda são estabelecidos sobre a esperança de experimentar (do grego dokimazein – provar) a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (verso 2). Isso significaria nada mais nada menos que ter a consciência da suficiência de Deus para controlar tudo.

Contudo, quais seriam os benefícios de ter a consciência da Soberania de Deus? Tentarei enumerá-los aqui, mas não sei se constituem ordem lógica. Principalmente, porque esse tema é, de forma geral, ao entendimento meramente humano, ilógico. Todavia, o cristianismo é extremamente lógico até aonde a Soberania de Deus permite-nos avançar. E é exatamente isso que nos possibilita o desfrute da dádiva imerecida. Assim segue-se que:

A consciência da Soberania de Deus beneficia o homem nos seguintes aspectos:

1. Identificação de que foi atraído por Ele, pela Sua própria justiça (Rm 5:1).
2. Identificação da Libertação da escravidão do pecado (Rm 6:17-22).
3. Identificação de sua dependência Dele para segurança, pela sua natureza pecaminosa (Rm 7-8)
4. Identificação da certeza de que Ele não erra, nem recebe conselho em Suas escolhas (Rm 9)

Estes pontos seriam por demais suficientes para uma vida de total devoção ao Senhor. No entanto, parece-me que os cristãos contemporâneos ainda precisam entender que o maior benefício da consciência da Soberania de Deus repousa em um aspecto que muitos tentam negligenciar. Aquele que apresenta que Deus tem o devido poder para conduzir suas vidas segundo Lhe aprouver. A paz mental pela qual muitos lutam apresenta alto teor de solubilidade, porque, de todos os bens que a consciência da Soberania de Deus nos traz, este é o único que, a alguns, se constitui em um problema. Afirmamos que ele tem o controle de nossas vidas, mas sempre estamos procurando um jeitinho de nos apropriarmos de nossas decisões precipitadas.


É fato que somos extremamente responsáveis por nossas ações e as Sagradas Escrituras não deixam de enfatizar a responsabilidade humana. No entanto, saber que Ele é o que opera tanto o querer quanto o efetuar, segundo a Sua boa vontade, é compreender o segredo do crescimento cristão. Ser movido pela renúncia de nossa vontade em relação à vontade de Deus e a de nossos irmãos, é evidenciar a presença do amor cristão em nossas vidas.

Por isso, o quanto ganharíamos com a consciência da Soberania de Deus, neste aspecto?
Nunca poderemos colher os plenos benefícios dessa consciência se não tornarmos prático a nós mesmos que Ele tem o controle de tudo. Nas palavras do Mestre encontramos clarificação da consciência da Soberania de Deus nas instruções: "Não estejais ansiosos quanto à vossa vida..." Da mesma forma, o apóstolo Pedro ensina qual é a atitude daquele que se beneficia neste conhecimento: "Lançando sobre ele toda vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (IPd 5:7).

Somente dizer isso a ele não seria nada mais do que Lhe dizer o óbvio. Todavia, no desempenho dessas ações estaríamos entregando-nos por completo. Isso seria renunciar nossa vontade para fazer a Dele. Seria encontrar a paz e o sentido de nossas vidas. Seria estar satisfeito em toda e qualquer situação e poder dizer como o apóstolo Paulo: POSSO TODAS AS COISAS NAQUELE QUE ME FORTALECE! (Fp 4:13)


[1] Termo grego que se refere a Justiça de Deus

Boas Vindas!

Olá queridos irmãos,

Criei este blog, especialmente, para atender a necessidade de meus alunos. Sabendo que as tarefas se iniciam a partir do momento em que saímos de sala, penso que esta pode ser uma boa oportunidade de expandirmos nosso tempo.

Embora o blog não se restrinja ao tratamento de assuntos relativos ao alunado, ele bem servirá aos nossos propósitos. Pretendemos nos deliciar em conhecimentos específicos das mais diversas áreas do saber teológico. Tendo como base fundamental a visão teológica oriunda da reforma protestante.

Desejando também, fornecer reflexões que sirvam como ferramentas de aproximação da verdade bíblica. Cremos que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus. O meio pelo qual Deus se revelou. Sendo assim, as lentes pelas quais aqueles a quem Deus chamou podem contempla-Lo.

Sejam todos benvindos e fiquem à vontade para emitirem suas opiniões!

Quando Precisamos nos Justificar estamos longe do arrependimento Sl 51

Caros amigos, tenho refletido sobre algumas leituras que tenho investido um pouco de tempo. Aliás, aqui vai o primeiro conselho: quando lemos, vivificamos o nosso intelecto. Mas, obviamente, precisamos ressalvar algumas coisas. Nem todas as leituras produzem o resultado supracitado. Algumas, na verdade, nos conduzem para longe de nossos objetivos. Nosso prazer na leitura revela nosso desejo de aquisição daquilo o que ainda não temos.

Bom, como sei que muitos não lerão mais do que o referido até aqui, deixei para falar o que realmente desejo a partir deste momento, onde já é necessário um clique a mais. Pois é, leitores são diferenciados assim, aqueles que desejam dar um clique a mais, somente para conhecer os mistérios da informação que lhe exige mais atenção.
Analisando este salmo e na visualização de seus princípios, diante do que pode ser percebido, notei que Davi, ao ser identificado em seu pecado, não titubeou em dizer: Pai, pequei contra ti! Embora, tenha se demorado na sua atitude, o rei não tentou justificar os seus atos. Talvez, poderia ter tentado estabelecer como um momento de fraqueza, ou até mesmo culpar uma mulher que estava se banhando, quando saberia que sua sacada dava vistas ao palácio do grande rei. Não! Ele disse: Contra ti somente, Senhor (vs 4).

Acredito que o mundo tem feito um grande esforço para fazer-nos esquecer que todo o pecado que cometemos é antes de tudo, contra Deus. E por que deveríamos tentar justificar, quando Deus conhece nossos pensamentos e sabe que não conseguimos engana-lo? Vivemos em um mundo onde não existem mais culpados. Como bem diz Dr. John MacArthur em seu livro Sociedade sem pecado, estão fazendo de tudo para anular a culpa das pessoas, pois sem culpa, não há pecado.

O pior é consentir com essa atitude, que de fato, é a semente da serpente: Eva, não é bem assim (Parafraseando, certamente não morrerás...). Devemos lembrar que a natureza do cristianismo consiste em reconhecermo-nos CULPADOS. Só há arrependimento quando identificamos isso. Contudo, somente os que são tocados pelo Espírito Santo percebem isso, o Mestre disse: Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo (Jo 16:8).

A busca atual é cauterizar a mente, anulando qualquer tipo de culpabilidade e justificando-os como simples erros ou delitos. E o que fazer com a oração que Jesus nos ensinou, que deve nos servir como base para nossa vida com Ele? E perdoa-nos as nossas dívidas...dívidas? Quais? Não temos essas coisas... Ai de nós, se pensamos dessa maneira! Pois embora, nossos pecados não tragam satisfação nenhuma a Deus, julgar que já superamos e dizer que não mais pecamos é tão errado quanto não reconhecer que Deus é luz, e somos extremamente dependentes d’Ele!

Somos falhos sim, a diferença é que o Senhor plantou em nós a insatisfação com o pecado (IICo 7:10). Não somos como “porcos no chiqueiro” que se alegram pela lama. Mas, como ovelhas um tanto quanto “teimosas”, vira e mexe, estamos tomando cajadadas para continuar nossa jornada. Todavia, ao se confrontar com uma situação de tristeza com o pecado, em vez de se lambuzar como um porco, choramos como ovelha. Mas, graças a Deus que, pelo sangue de Jesus, fomos purificados, para termos comunhão com Deus e nossos irmãos (I Jo 1:9).

Quando buscamos nos justificar, procurar agrados, alguém para apoiar nossa causa, convocamos pessoas para ajudar-nos em nosso pecado e estamos longe do arrependimento. Mas, quando chegamos diante de Deus e dizemos: “Contra ti somente! Lava-me completamente!” O Deus que é grande em Misericórdia (Nm 14:18), que perdoa a iniquidade, realiza sua obra em nós. E talvez, se assim Ele quiser, se agrade em usar-nos nesse exercício. Todavia, certamente nos faz lembrar que o que importa é que Seu nome seja glorificado e não o nosso. “Não a nós, SENHOR, não a nós, mas a teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade”. (Sl 115:1)

Who do we think we are? We are just his slaves (that is the real meaning of greek word doulos) of Christ. Let our Lord teach us what we really need to learn from him!