segunda-feira, 9 de abril de 2018

João e os Sinóticos


           Depois de concluir meu curso, tenho um desejo ardente de fornecer um pouco do resultado de minhas pesquisas. O propósito é fornecer certa contribuição para os amantes de Teologia. Como minha área de formação é neotestamentária, procurarei apresentar alguns resumos dos principais temas que englobam os estudos neotestamentários. Não serão dispostos necessariamente em ordem. Informo também que são frutos de um módulo onde tivemos que pesquisar em pouco tempo muito conteúdo para realização ou apontamento de diversos papers. Ainda não defini a frequência com que isso ocorrerá, mas segue o primeiro - falando sobre João e os Sinópticos! Boa leitura!
           Há um questionamento sobre a motivação de quatro Evangelhos, se todos tratam da mesma pessoa. Arthur W Pink, pontuou no prefácio de seu livro “Why four Gospels?” que as especificidades dos Evangelhos revelam, por seu conteúdo, a excelência do Filho de Deus, de maneira que se tem a visão acertada a respeito de Jesus, visto por ângulos diferentes. No atendimento das demandas necessárias para as comunidades destino, os autores apresentaram a verdade acerca do Mestre, tendo em vista os ensinamentos que pretendiam fornecer. É possível perceber que mesmo entre os sinóticos, os aspectos intencionais do autor se destacam como diferencial, nas abordagens realizadas.

            O quarto Evangelho, no entanto, a partir do avanço do método histórico-crítico, tem recebido inúmeras críticas quanto à originalidade de seu conteúdo. Naturalmente, embora essa crítica seja desempenhada também aos outros Evangelhos[1], o quarto Evangelho é sem dúvidas o maior alvo, por suas características que o diferenciam dos sinópticos.

Estas diferenças, contudo, não deveriam ser identificadas como elementos que inviabilizam a autenticidade dos escritos joaninos. Até porque seu conteúdo foi ao longo dos anos atestado por inúmeras testemunhas. Na verdade, as diferenças entre os evangelhos sinóticos e João podem ser identificadas por se tratarem de conteúdos, como indicado anteriormente, que atendem demandas específicas, mas também em períodos específicos[2].

É crido e atestado que João é o último dos Evangelhos. Estudiosos remetem-no ao final do I Séc. da Era Cristã, entre 80-90[3]. E por assim ser, é bem provável que o apóstolo João tenha tido contato com os sinóticos, mas intencionalmente trouxe informações que não haviam ainda sido referidas, optando “por escrever seu próprio livro” [4]. A análise das características distintivas de João podem apresentar de maneira mais criteriosa os propósitos autorais.

Os longos discursos do Mestre (Caps. 6, 8,10; 14-16), discussões e debates (5,8,10,12); uma ênfase interessante na utilização da expressão eu sou – fazendo clara referência ao emprego utilizado por Deus no AT (8:58); os diálogos eficazes que proporcionam a crença em Jesus Cristo como o Messias prometido[5]; todos são elementos que colaboram ao propósito de João de apresentar Jesus Cristo como o Deus encarnado. Entretanto, uma característica notável que serve por destacar o conteúdo ainda mais dos sinóticos é o fato de em inúmeras vezes apresentar uma escatologia realizada[6]. É em João que vemos o registro das palavras de Jesus sobre “Aquele que ouve as minhas palavras e crê naquele que me enviou tem a vida eterna...” (5:24).

João também registra a ida de Jesus a Judéia pelo menos 3 vezes, dando ênfase a estes momentos, diferente dos sinóticos que apresentam o ministério de Jesus em grande parte sendo exercido no norte da Palestina (Galiléia). George Ladd salienta uma suposta distinção existente entre o Reino de Deus e a vida eterna, se comparados a utilização dos sinóticos e João[7], mas não há nenhuma evidência para identificar tantas diferenças semânticas com relação a este aspecto, como argumenta Ladd.

São características específicas, porém é possível identificar muitas semelhanças e sua complementaridade. A própria ausência de informações que são identificadas nos sinóticos pode possuir relação com essa característica. Entretanto, alguns eventos são ratificados por João, que já haviam sido mencionados nos sinóticos[8]: O evento do batismo de Jesus; a característica singular do batismo que é fornecido por Jesus – sendo o que batiza com o Espírito, em detrimento de João Batista que apenas batiza com água; o caminhar sobre o mar e outros aspectos que poderiam ser relatados. Como bem afirma Carson, não é possível ver claramente uma correspondência literária, mas é fato que fornecem informações parcialmente paralelas.

A preciosidade de João é vista em seu rico conteúdo, onde pelo olhar de um discípulo mais chegado, é possível conhecer informações imprescindíveis que corroboram ao desenrolar da história da progressividade da revelação bíblica. Não seria possível ter a completude das Escrituras hoje, sem as informações contidas neste livro. A Cristologia exibida nos sinóticos é complementada de maneira definitiva, na evidenciação da essência divino-humana de Jesus, que é um dos elementos fundamentais deste livro. Alguém que possuísse dúvidas a respeito de Jesus Cristo, sua missão, e sua natureza, teria suas dúvidas elucidadas pelas informações nos sinóticos e também pelo Evangelho de João. Desta forma, o evangelho de João se relaciona com os sinóticos, ratificando seu conteúdo, mas fornece uma preciosa contribuição em seu caráter único, fazendo com que mais dos ensinos e eventos autênticos a respeito de Jesus sejam conhecidos.




REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS:

BULTMANN, Rudolph. The History of the Sinoptics Tradition. Oxford: Basil Blackwell, 1972.

CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

CHAMPLIN, R.N O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos. V 5.

Duvall & Hays, J. Scott & J. Daniel. Grasping God's Word: A Hands-On Approach to Reading, Interpreting and Applying the Bible. 2nd ed. Grand Rapids: Zondervan, 2005.

GUNDRY, Robert H. Panor              ama do Novo Testamento. Vida Nova: São Paulo.

LADD, George Eldon. A Theology of New Testament. Grand Rapids: WB Eerdmans Publishing, 1993.

PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. Hagnos: São Paulo. 2008

MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.



[1] Cf. BULTMANN, Rudolph. The History of the Sinoptics Tradition. Oxford: Basil Blackwell, 1972.
[2] Cf. PINTO, Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
[3] Embora diversos argumentos já tenham sido lançados, sobretudo, a não menção da destruição do templo judaico (70), tem feito com que alguns estudiosos recuem esta data para entre 65-70, mas conforme bem argumentam Carson, Moo e Morris, é provável que a sutileza de João em seus escritos possa responder a essa descrição como algo que já estivesse aceito na mente dos judeus. Cf CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. P 190-191.
[4] Idem. P 184.
[5] PINTO. P 154.
[6] Idem.
[7] LADD, George Eldon. A Theology of New Testament. Grand Rapids: WB Eerdmans Publishing, 1993. P 259
[8] Cf CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. P 182.