segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Canção do Filho Pródigo


Estou tão distante que já não sei o caminho para voltar. Também sou bastante orgulhoso a ponto de tentar andar ainda algumas milhas, em busca de algum lugar que possa servir como refúgio. Mas, quanto mais me distancio mais percebo a solidão de minhas escolhas, mais percebo a podridão de meus pensamentos.

Os momentos pareciam ser satisfatórios, mas aqueles que me cercavam não desejavam me ter por perto, mas aquilo o que poderiam retirar de mim. Não tenho amigos verdadeiros, e percebo que o único que realmente se importava comigo foi quem eu rejeitei. Ah! O que eu fiz? Ahh! Aonde estou? Quero voltar, mas não vejo como, não sei o que falar. Não sei o que fazer, nem como me libertar.

Querido pai, és tão bom que ofertas até mesmo aos que não merecem maior dádiva que se poderia estimar. Seria o teu coração ainda misericordioso para com aquele que se fez odioso aos teus olhos? Poderias aceitar alguém que te envergonhou publicamente e ainda distante continua a ser motivo de tua vergonha? Poderias perdoar alguém que continuamente te ofende e ainda ruiu boa parte daquilo o que empregaste teus esforços para conquistar? Oh meu pai... Nem digno de ser chamado de teu filho sou e penso que jamais serei. É assim que me verei para sempre. Tu és bom, mas existiria alguém tão bom que pudesse retribuir a ofensa com dádiva? Existiria alguém que pudesse fazer do amor objeto de superação para toda dor? Por acaso alguém amaria um desequilibrado, um egoísta, um miserável assim?

Sim pai, sim papai. Tu me amaste assim! Alguma coisa me fez voltar e ainda ensaiava a lhe falar quando pude contemplar de longe um movimento em minha direção. Não consegui identificar, porque minha visão estava turva, mas percebo que fui alvo de sua constante expectativa. Tu estavas lá, a me esperar. Correste, e quando eu deveria ser vilipendiado, tu me ofertaste o que eu jamais poderia imaginar, aquilo o que eu achava que havia perdido para sempre. Teu abraço apertado, teu beijo caloroso, teu coração pulsante... Desajeitado, comecei a falar, mas só pude dizer o que realmente estava em meu coração: Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho! Mas, o que dizer desse teu amor. Me recolheste, me purificaste, trocaste minhas vestes, me deste de volta a razão de viver. E me ensinaste que minha verdadeira razão está em ser como tu és; está em aprender contigo o que é a vida; está em perceber que teu amor não há de se comparar a nada que habita em mim. Mas, que o teu amor seja também o meu amor, que o teu cuidado seja também o meu cuidado, que a tua vida seja sempre a minha vida.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pensamento sobre o cânon e a importância do II Século


          Prezados, demorei a publicar o segundo paper, pois estive por demais atarefado com demandas diversas (escola, seminário, igreja e muitras outras). Tenho visto alguns alunos em seus projetos demonstrarem desejo de falar sobre o Cânon. Realizei um trabalho maior sobre isso quando estudei sobre os apócrifos do período neotestamentário. O módulo foi bem interessante, ministrado pelo Dr. Augustus. Em outra ocasião falamos sobre a importância do século II para a consolidação do Cânon da Escritura, assunto bastante controverso na academia. Por este motivo, pontuo apenas (como mencionei que seria) uma pequena linha sobre o assunto. Esperando que sirva aos estudantes de alguma forma. Aponto algumas importantes referências para avanço na pesquisa do tema também.
História do Cânon (resumo)
          É natural encontrar pessoas questionando a validade do Cânon adotado pela Igreja. No meio crítico se encontram aqueles que procuram trazer descrédito a lista que foi desde cedo adotada pela igreja como os livros autoritativos, os quais foram reconhecidos como a Palavra de Deus. Não se pode afirmar que havia uma consciência da dimensão de uma lista de livros canônicos, mas, isso de fato nem era necessário[1] para que houvesse a certeza do poder e a suficiência destes escritos.

            Leon Morris afirma que a Bíblia como a Palavra de Deus tomou seu devido lugar, impondo sua autoridade com relação aos outros escritos e, desde cedo era a estes escritos – que posteriormente foram considerados canônicos – que os cristãos recorriam quando possuíam alguma dúvida sobre algum ensino[2]. Marshal também afirma isso e acrescenta que um consenso entre a igreja, não havendo grandes discordância a respeito do conteúdo, é algo que deva ser plenamente considerado[3].

Sem dúvidas, a mais recente e interessante posição acerca desta temática é a defendida por Andreas Kostenberg[4]. Dentre suas definições, ele aponta que a ideia de Canon é algo que precede a própria igreja e tem como padrão o exemplo do fornecimento do conteúdo para o povo hebreu. A forma como o  texto veterotestamentário está para o seu desdobramento, primeiramente nele mesmo e também pelo aspecto complementar que AT e NT exercem um em função do outro, se observados os temas basilares aos quais estavam expostos os primeiros cristãos, consolidam sua dependência mútua[5].

Desta forma, tanto a ação do Deus Yahweh, ao retirar seu povo do cativeiro egípcio, conduzindo-os ao monte Sinai para fornecer os seus preceitos para então serem levados a terra, assim como o fornecimento da regulamentação de adoração do povo por intermédio do Decálogo, Código da Aliança e posteriores informações para confecção do Tabernáculo – manifestam evidências dos propósitos de Deus no cuidado com a obediência devida por aqueles que lhe serviriam. Semelhante ao AT, os escritos do NT também seguem este padrão, na formação e instrução da comunidade da Nova Aliança. Jesus Cristo instituiu os discípulos como aqueles que dariam continuidade aos seus ensinos, estabelecendo as bases pela qual os cristãos seriam fundamentados.

            Na perspectiva do povo de Deus, ambos os Testamentos são registrados de forma escrita, posterior aos atos redentivos de Deus. Essa característica evidencia a relação do cânon com a História da Redenção[6]. Após o segundo século, houve uma efervescência a respeito de quais seriam os livros que comporiam as Sagradas Escrituras. No entanto, é possível ver que os chamados pais da igreja começaram pouco a pouco dar testemunho daqueles que foram reconhecidos como autoritativos pela igreja.

            A importância do segundo século é vista pela ratificação da autoridade das Escrituras. Como os primeiros cristãos tinham como referência as Escrituras do Antigo Testamento, eles mesmos tinham a noção de que o cânon era algo crescente[7]. Esta referência serviu como base para a identificação de que isso estava ligado à ação do Espírito Santo, na vida de homens que falaram movidos por Ele. Desta forma, também no período de composição do Novo Testamento havia esta conscientização da celebração da Palavra de Deus.

Após a morte dos apóstolos, houve naturalmente a preocupação com a defesa da fé dos cristãos e os Escritos Sagrados. A grande tentativa de adentrar os círculos cristãos, por parte dos heréticos, foi identificada pelos pais como algo que requeria seu posicionamento. Desta forma, o segundo século se apresenta como plenamente importante para a confirmação daquilo o que já havia sido reconhecido pela igreja como as Escrituras Sagradas.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS:
BRUCE, F.F. The Period Between Testaments: The Political Development. The Bible Student. V. 20.1: Jan 1949. Pg 9-15
____________. The Period Between Testaments: Religion Development. The Bible Student. V. 20.2: April 1949. Pg 59-64.
Duvall & Hays, J. Scott & J. Daniel. Grasping God's Word: A Hands-On Approach to Reading, Interpreting and Applying the Bible. 2nd ed. Grand Rapids: Zondervan, 2005.
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Vida Nova: São Paulo, 2000.
MATOS, Alderi de Souza. Sola Scriptura: A centralidade da Bíblia na Experiência Protestante. Instituto Presbiteriano Mackenzie. Disponível em http://www.mackenzie.com.br/6965.html.
MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
KOSTENBERG, Andreas J. KRUGER, Michael J. A Heresia da Ortodoxia. São Paulo: Vida Nova, 2014.
PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. Hagnos: São Paulo. 2008
Spaggiari & Perugi, Barbara & Maurizio. Fundamentos da Crítica Textual. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
WARFIELD, B.B. A inspiração e a Autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã. 2010




[1] Cf. WARFIELD, B.B. A inspiração e a Autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã.
[2] MORRIS. Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
[3] MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.
[4] Cf. KOSTENBERG, Andreas J. KRUGER, Michael J. A Heresia da Ortodoxia. São Paulo: Vida Nova, 2014.
[5] Idem. P 143.
[6] Idem P 152.
[7] Warfield. P 3

segunda-feira, 9 de abril de 2018

João e os Sinóticos


           Depois de concluir meu curso, tenho um desejo ardente de fornecer um pouco do resultado de minhas pesquisas. O propósito é fornecer certa contribuição para os amantes de Teologia. Como minha área de formação é neotestamentária, procurarei apresentar alguns resumos dos principais temas que englobam os estudos neotestamentários. Não serão dispostos necessariamente em ordem. Informo também que são frutos de um módulo onde tivemos que pesquisar em pouco tempo muito conteúdo para realização ou apontamento de diversos papers. Ainda não defini a frequência com que isso ocorrerá, mas segue o primeiro - falando sobre João e os Sinópticos! Boa leitura!
           Há um questionamento sobre a motivação de quatro Evangelhos, se todos tratam da mesma pessoa. Arthur W Pink, pontuou no prefácio de seu livro “Why four Gospels?” que as especificidades dos Evangelhos revelam, por seu conteúdo, a excelência do Filho de Deus, de maneira que se tem a visão acertada a respeito de Jesus, visto por ângulos diferentes. No atendimento das demandas necessárias para as comunidades destino, os autores apresentaram a verdade acerca do Mestre, tendo em vista os ensinamentos que pretendiam fornecer. É possível perceber que mesmo entre os sinóticos, os aspectos intencionais do autor se destacam como diferencial, nas abordagens realizadas.

            O quarto Evangelho, no entanto, a partir do avanço do método histórico-crítico, tem recebido inúmeras críticas quanto à originalidade de seu conteúdo. Naturalmente, embora essa crítica seja desempenhada também aos outros Evangelhos[1], o quarto Evangelho é sem dúvidas o maior alvo, por suas características que o diferenciam dos sinópticos.

Estas diferenças, contudo, não deveriam ser identificadas como elementos que inviabilizam a autenticidade dos escritos joaninos. Até porque seu conteúdo foi ao longo dos anos atestado por inúmeras testemunhas. Na verdade, as diferenças entre os evangelhos sinóticos e João podem ser identificadas por se tratarem de conteúdos, como indicado anteriormente, que atendem demandas específicas, mas também em períodos específicos[2].

É crido e atestado que João é o último dos Evangelhos. Estudiosos remetem-no ao final do I Séc. da Era Cristã, entre 80-90[3]. E por assim ser, é bem provável que o apóstolo João tenha tido contato com os sinóticos, mas intencionalmente trouxe informações que não haviam ainda sido referidas, optando “por escrever seu próprio livro” [4]. A análise das características distintivas de João podem apresentar de maneira mais criteriosa os propósitos autorais.

Os longos discursos do Mestre (Caps. 6, 8,10; 14-16), discussões e debates (5,8,10,12); uma ênfase interessante na utilização da expressão eu sou – fazendo clara referência ao emprego utilizado por Deus no AT (8:58); os diálogos eficazes que proporcionam a crença em Jesus Cristo como o Messias prometido[5]; todos são elementos que colaboram ao propósito de João de apresentar Jesus Cristo como o Deus encarnado. Entretanto, uma característica notável que serve por destacar o conteúdo ainda mais dos sinóticos é o fato de em inúmeras vezes apresentar uma escatologia realizada[6]. É em João que vemos o registro das palavras de Jesus sobre “Aquele que ouve as minhas palavras e crê naquele que me enviou tem a vida eterna...” (5:24).

João também registra a ida de Jesus a Judéia pelo menos 3 vezes, dando ênfase a estes momentos, diferente dos sinóticos que apresentam o ministério de Jesus em grande parte sendo exercido no norte da Palestina (Galiléia). George Ladd salienta uma suposta distinção existente entre o Reino de Deus e a vida eterna, se comparados a utilização dos sinóticos e João[7], mas não há nenhuma evidência para identificar tantas diferenças semânticas com relação a este aspecto, como argumenta Ladd.

São características específicas, porém é possível identificar muitas semelhanças e sua complementaridade. A própria ausência de informações que são identificadas nos sinóticos pode possuir relação com essa característica. Entretanto, alguns eventos são ratificados por João, que já haviam sido mencionados nos sinóticos[8]: O evento do batismo de Jesus; a característica singular do batismo que é fornecido por Jesus – sendo o que batiza com o Espírito, em detrimento de João Batista que apenas batiza com água; o caminhar sobre o mar e outros aspectos que poderiam ser relatados. Como bem afirma Carson, não é possível ver claramente uma correspondência literária, mas é fato que fornecem informações parcialmente paralelas.

A preciosidade de João é vista em seu rico conteúdo, onde pelo olhar de um discípulo mais chegado, é possível conhecer informações imprescindíveis que corroboram ao desenrolar da história da progressividade da revelação bíblica. Não seria possível ter a completude das Escrituras hoje, sem as informações contidas neste livro. A Cristologia exibida nos sinóticos é complementada de maneira definitiva, na evidenciação da essência divino-humana de Jesus, que é um dos elementos fundamentais deste livro. Alguém que possuísse dúvidas a respeito de Jesus Cristo, sua missão, e sua natureza, teria suas dúvidas elucidadas pelas informações nos sinóticos e também pelo Evangelho de João. Desta forma, o evangelho de João se relaciona com os sinóticos, ratificando seu conteúdo, mas fornece uma preciosa contribuição em seu caráter único, fazendo com que mais dos ensinos e eventos autênticos a respeito de Jesus sejam conhecidos.




REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS:

BULTMANN, Rudolph. The History of the Sinoptics Tradition. Oxford: Basil Blackwell, 1972.

CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

CHAMPLIN, R.N O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos. V 5.

Duvall & Hays, J. Scott & J. Daniel. Grasping God's Word: A Hands-On Approach to Reading, Interpreting and Applying the Bible. 2nd ed. Grand Rapids: Zondervan, 2005.

GUNDRY, Robert H. Panor              ama do Novo Testamento. Vida Nova: São Paulo.

LADD, George Eldon. A Theology of New Testament. Grand Rapids: WB Eerdmans Publishing, 1993.

PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. Hagnos: São Paulo. 2008

MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.



[1] Cf. BULTMANN, Rudolph. The History of the Sinoptics Tradition. Oxford: Basil Blackwell, 1972.
[2] Cf. PINTO, Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
[3] Embora diversos argumentos já tenham sido lançados, sobretudo, a não menção da destruição do templo judaico (70), tem feito com que alguns estudiosos recuem esta data para entre 65-70, mas conforme bem argumentam Carson, Moo e Morris, é provável que a sutileza de João em seus escritos possa responder a essa descrição como algo que já estivesse aceito na mente dos judeus. Cf CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. P 190-191.
[4] Idem. P 184.
[5] PINTO. P 154.
[6] Idem.
[7] LADD, George Eldon. A Theology of New Testament. Grand Rapids: WB Eerdmans Publishing, 1993. P 259
[8] Cf CARSON, D.A. MOO, Douglas J. MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. P 182.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Você ama a Cristo?

“Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me?” (João 21:17a)

V
ocê ama a Cristo?Essa é a pergunta mais prontamente respondida por todo e qualquer cristão. Fiz a pergunta para o grupo de jovens que temos em nossa igreja. As respostas foram categóricas: “É claro que amo!”. Rapidamente me lembrei de uma estratégia do Pr. Francis Chan e os pedi para fazer um desafio aos seus líderes – um casal que se uniu em matrimônio há aproximadamente 7 anos. Os instiguei a elaborarem perguntas ao homem, sobre a forma em que evidenciava seu amor por sua esposa. Saíram coisas do tipo:Como você se sente quando está com ela? Até onde iria por ela? Morreria por ela? É comprometido até no Facebook? Ela tem acesso às suas coisas mais secretas? Pensa nela o dia todo?” Demos boas risadas e mesmo diante da tendência de que algumas perguntas soassem constrangedoras, o casal permaneceu descontraído, evidenciando que o dever de casa dos “entendidos” do amor havia sido feito.
Ao concluir esta fase, perguntei novamente: Vocês amam a Cristo? Mesmo com um número reduzido de convicções neste momento, a resposta ainda foi forte: Sim! Então lhes disse que tinha algumas perguntas para lhes fazer. E aproveitei para improvisar aquelas que haviam acabado de ser criadas por eles: “Como você se sente quando está com Cristo? Aliás, vocês têm andado em sua presença ultimamente? Até onde iria por Cristo? Vocês morreriam por Cristo? Estão comprometidos com Cristo até no facebook (expliquei: seus facebooks revelam muito se amam a Cristo ou não)? Vocês confessam a Cristo suas coisas mais secretas? Pensam nele o dia todo? A esta altura entenderam que poucos ali poderiam sustentar suas afirmações sobre a validade de seu amor por Cristo.
Pensando nisso, refleti um pouco sobre como nossas atitudes revelam o que nos move ou a quem amamos. Apenas dizer que amamos não torna isso verdadeiro. Nenhum casal acredita em um “amor” constituído de constantes demonstrações de infidelidade, há de se demonstrar que esse amor é real por meio de ações. Da mesma forma, amar a Cristo vindica comportamento compatível.
Imagino o que significou para Pedro as palavras de Jesus. Logo após a refeição, Jesus veio com essa sobremesa amarga para o discípulo. Era um momento muito difícil para Pedro. Depois de dizer de maneira audível a todos que jamais negaria o mestre, ao ver sua vida em risco, por três vezes se esquivou do desafio de assumir que era um discípulo do Senhor. Pedro negou a maior honra que lhe havia sido concedida na sua vida e demonstrou, naquele momento, que não amava tanto a Cristo como a si mesmo.
Nada mais difícil poderia ser perguntado pelo mestre em seu primeiro encontro com Pedro depois daquele episódio. Tanto a pergunta como a forma (3x) parecem ser propositais e pedagógicas. O amor de Pedro havia sido testado e sabia que não tinha sido aprovado. No lugar de Pedro, eu certamente pensaria: “O que responder sobre o amor que sinto para este que, além de saber de tudo, viu quando minhas atitudes demonstraram minha vergonha”. Entretanto, a audácia de Pedro muitas vezes me assusta. Eu não conseguiria dizer para o mestre o que ele de maneira corajosa disse. Talvez eu diria, “Senhor, não tenho me comportado como alguém que te ama, recentemente...”.Pedro, por sua vez, responde: Sim, Senhor! Tu sabes que te amo! Contudo, ouvir Jesus perguntar pela terceira vez a mesma coisa produziu nele a percepção inevitável de que suas palavras não possuíam tanto valor quanto suas atitudes.
Entendo que muitos de nossos comportamentos anulam nossas falas sobre o quanto “amamos” a Cristo. As atitudes falam mais alto sobre nosso amor que nossas palavras. Não poucas vezes observei a multidão de coisas que constavam em meu dia e as que sentia prazer em fazer, e como exemplificavam o quão distante estava meu coração de Cristo. Observo os ensinos bíblicos de pessoas como Enoque que foram caracterizadas por grande intimidade e um prazer em andar com Deus e penso que nossa geração está distante do amor a Cristo. Essas pessoas viviam pra Deus, suas agendas estavam ajustadas para Deus.
Esse quadro é bem diferente nos dias que vivemos. As pessoas vivem pra si, porque amam a si mesmas. Organizam seus dias para uma vida que traz satisfação apenas para si. E o resultado é uma triste confusão de valores: Uma multidão de vozes querendo ser ouvidas, quando apenas uma deveria ser; Uma multidão de pessoas querendo ser o centro, quando apenas um deveria ser; Pessoas que possuem uma página inteira, para falar apenas de si mesmas (Apenas a parte “boa”, é claro! Não me lembro de me deparar com alguém confessando seus pecados nessas páginas!). Isso parece distante das palavras de Jesus: “Aquele que quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Lc 9:23). Seria possível dizer que amamos a Cristo e viver diferente do que ordenam suas palavras? Afinal de contas, amigos somente são aqueles que fazem o que ele ordena. “Vós sereis meus amigos, se fizerem o que eu vos mando.” (Jo 15:14)
Pedro se sentiu fragilizado diante da frenagem de seu ímpeto aplicada por Jesus – com a repetição da pergunta. Mas, interessante é perceber que a tristeza da impotência de suas palavras manifestaria a certeza de que deveria se apegar à esperança de futura compatibilidade entre sua profissão de fé e seu comportamento. Uma nova oportunidade estava lhe sendo ofertada, uma nova chance não deveria ser descartada. É possível que a frase de Jesus “...apascenta minhas ovelhas” tenham soado como “vai, Pedro...viva então, a partir de agora, como alguém que realmente me ama, obedecendo as minhas palavras”. E assim, o desfecho da vida de Pedro demonstra que ele realmente se apegou as palavras de Cristo, lutou – dali pra frente – por amar e viver Cristo.
            Talvez as palavras de Cristo para nós hoje não sejam como as que foram direcionadas para Pedro, mas por certo elas vindicam mudança de comportamento. Minha oração é que assim como aconteceu com Pedro, possamos ser despertados para o amor de Cristo não apenas de palavras, mas de vida e verdade. Pedro entendeu que apenas por Cristo, sua vida poderia ser plenamente transformada para uma vida segundo a sua vontade – por isso ele estava ali mesmo diante de sua vergonha.
Que as palavras de Cristo nos tragam constrangimento, para que haja entendimento do quão distante estamos de viver o amor que ele deseja que vivamos, e  nos ajude a sermos finalmente quem nos chamou para ser!
Que ele tenha misericórdia de nós

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

When we need to justify ourselves we are far from regret (Sl 51)

Dear friends, I have reflected on some readings that I dedicated a little. In fact, here is the first advice: when we read, we vivify our intellect. But, of course, we need to underscore some things. Not all readings produce the results we usually expect. Some, in fact, lead us away from our goals. Our pleasure in reading reveals our desire to acquire what we do not have yet.
Well, as I know that many will not read more than the one mentioned until here, I kept the words that I really want to say from this moment, where an extra click is necessary. Readers are are distinguished by this, those who wish to click more, just to know the mysteries of information that requires more attention.
Analyzing this psalm and viewing its principles, in the face of what can be perceived, I noticed that David, when identified in his sin, did not hesitate to say: Father, I have sinned against you! Although he delayed his attitude, the king did not attempt to justify his actions. Perhaps he could have tried to establish it as a moment of weakness, or even blame a woman who was taking shower, when she would know that her balcony overlooked the palace of the great king. No! He said: Against Thee alone, Lord (vs 4).
I believe that the world has made a great effort to make us forget that all the sin we commit is, above all, against God. And why should we try to justify, when God knows our thoughts and knows that we can not deceive him? We live in a world where there are no more guilty. As Dr. John MacArthur says in his book The Vanishing Conscience, they are doing everything to nullify people's guilt, for without guilt, there is no sin.
The worst thing is to consent to this attitude, which in fact is the serpent's seed: Eve, it is not quite like this (paraphrasing, you will certainly not die ...). We must remember that the nature of Christianity consists in acknowledging ourselves as GUILTY. There is only regret when we identify this. However, only those who are touched by the Holy Spirit perceive this, the Master said: When he comes, he will convict the world of sin, and of righteousness, and of judgment (John 16: 8).
The current search is to cauterize the mind, annulling any guilt and justifying them as simple mistakes. And what to do with the prayer Jesus taught us, which should serve as the basis for our life with Him? And forgive us our debts ... debts? Which are? We do not have these things ... Woe to us, if we think this way! For although our sins bring no satisfaction to God, judging that we have overcome and said that we no longer sin is as wrong as not recognizing that God is light, and we are extremely dependent on Him!
We are still sinners, yes, the difference is that the Lord has planted in us the dissatisfaction with sin (IICo 7:10). We are not like "pigs in the pigsty" who rejoice in the mud. But, like "stubborn" sheep, we are taking steps to continue our journey. However, when confronted with a situation of sadness with sin, instead of smearing like a pig, we cry like a sheep. But thanks be to God that through the blood of Jesus we have been purified so that we may have fellowship with God and our brothers (1 John 1: 9).
When we seek to justify ourselves, seek pleasures, someone to support our cause, we call people to help us in our sin and we are far from repentance. But when we come before God and say, "Against Thee alone, Oh Lord! Wash me completely! The God who is great in Mercy (Num. 14:18), who forgives iniquity, accomplishes his work in us. And perhaps, if He pleases, He will please us in this service. Yet it certainly reminds us that what matters is that His name be glorified, not ours. "Not to us, O LORD, not to us, but to thy name give glory, for thy lovingkindness and thy truth." (Ps 115: 1)

Assentados à Mesa

"Sentaram-se diante dele, o primogênito segundo a sua primogenitura, e o menor segundo a sua menoridade; do que os homens se maravilhavam entre si". (Gn 43:33)
E
stava refletindo sobre como a Bíblia relaciona os momentos onde há intimidade e comunhão com o assentar à mesa. É possível que os mais jovens não estejam tão familiarizados com momentos como esse. Nossas casas estão cada vez menores e nossa disposição em passarmos juntos alguns instantes à mesa nem sempre é prioridade. Ainda me lembro desses momentos que tínhamos na casa de minha avó, quando reuníamos quase toda família de meus avós paternos aos domingos para comermos a carne assada com batata da Dona "Tinguinha". Vovó retornava da EBD procurando nos servir, já tendo adiantado a comida no dia anterior. Sentados à mesa e auxiliados pela sombra de um imenso "pé de Jamelão", só saíamos dali para o delicioso e sempre fresco descanso na rede. Esse era, sem dúvidas, um momento muito especial e dificilmente será esquecido de minha memória.
Tanto o Antigo Testamento quanto o Novo confirmam que o assentar à mesa era algo que designava profunda comunhão. O Evangelho de Lucas, por exemplo, reserva diversos momentos em sua narrativa para falar de banquetes que aconteciam (Lc 5,29-30; 7,36-50; 9,10-17; 14,1). Estes registros mostram que Jesus também participava dessas refeições em conjunto. O mais interessante é que na maioria das vezes ele estava com pessoas consideradas indignas, desprezíveis e pecadoras.
Quando reflito sobre isso, percebo como as páginas da Escritura Sagrada estão embebidas da mensagem do Evangelho e transmitem a todo tempo, mesmo em momentos como esse (onde pessoas se assentam à mesa), a relevância da consideração de sua mensagem para entendimento do ensino do texto.
Há uma história registrada no Antigo Testamento que considero muito especial para ensinar sobre isso. Ela fala de um período onde os filhos de Jacó estavam desejosos de terem algo à mesa para que pudessem comer, mas não podiam porque o mantimento que deveria ser posto ali estava em falta. Pai de muitos filhos, Jacó não sabia mais o que fazer e solicitou a seus filhos que fossem buscar comida no Egito, que era o único lugar onde havia fartura de alimento. Jacó não sabia que naquele lugar havia comida apenas porque José, a quem seus filhos haviam vendido, tinha sido instrumento de Deus para prosperidade que o Egito estava vivendo.
Ao chegarem no local pela primeira vez, depois de terem sido reconhecidos por José, ele os acusou de espiões - que intentavam fazer mal a Faraó. A estratégia visava conhecer um pouco mais do estado de sua família. Ao tomar conhecimento do bem estar de seu pai e de seu irmão Benjamim, decidiu reter a um dos irmãos (Simeão) e estabelecer que só voltaria a fornecer mantimento à família, e liberar seu irmão, caso retornassem com o irmão mais novo. Esse pedido tocava diretamente em um ponto muito sensível para a família, pois lembrava a todos uma tristeza muito profunda que havia se instaurada a partir da ausência de José.
O capítulo 42 de Gênesis termina demonstrando a relutância de Jacó em atender ao pedido do governador (seu filho José) de retornarem com Benjamim, fazendo com que deixassem Simeão por algum tempo naquele local. Apenas quando o mantimento acaba, Jacó se vê sem alternativas e permite, com profundo pesar, que seus filhos retornem. Preocupados com um acontecimento inusitado - o fato de terem recebido de volta o dinheiro em suas sacolas na primeira vez - os filhos de Jacó jamais imaginariam o que estava por acontecer a eles, em terras egípcias.
José, ao ver seus irmãos dá ordens de que eles fossem dirigidos à sua residência particular. Pensando que se tratava da cobrança do dinheiro indevido, os irmãos de José se apressaram em explicar ao mordomo o que havia acontecido e que estavam dispostos a restituir o dinheiro aparentemente recebido por engano. Mas, ao ouvir as palavras de paz do mordomo e receber novamente Simeão, perceberam que haviam sido presenteados com grande favor. As surpresas não pararam por aí, pois depois de terem lavados os seus pés - algo nobre realizado a pessoas que eram bem vindas em uma residência - ainda foram convocados a um célebre momento de banquete. As porções foram distribuídas a cada um como se alguém ali soubesse suas idades e por isso ficaram maravilhados - muito embora o irmão mais novo tenha recebido porção cinco vezes maior.
A última frase do último verso do capítulo 43 (verso 34) declara que a comunhão foi tanta que eles beberam e se regalaram com ele. A palavra shakar indica um momento de prazer e alegria profunda. Porém, até aqui eles sequer faziam ideia de quem os estava fazendo tão bem. José se revela apenas no capítulo 45, mas não há como não refletir sobre como essa alegria sentida pelos irmãos seria acrescida de outros sentimentos se realmente soubessem que ali estava alguém que haviam ofendido brutalmente.
Quando me perguntava sobre os muitos momentos em que José já poderia ter se identificado, esse era um em que eu pensaria ser apropriado. Talvez, esse seria oportuno para causar uma indigestão e fazer aqueles maus irmãos perceberem que ele não era do mesmo nível que eles. Que estava pagando mal com bem. Mas, a sabedoria de José me deixa pasmo. Ele permitiu e gozou de preciosos minutos com aqueles que nem sabiam o quão indignos eram diante daquele que lhes ofertava o banquete. Que misericórdia! Que graça!
Este quadro parece refletir perfeitamente aqueles publicanos e pecadores que assentados com Cristo Jesus, se maravilhavam e o ouviam alegremente - simplesmente por estarem diante de alguém tão importante, tão proeminente. É possível que muitos deles nem soubessem que a vinda dele a esse mundo se tratava da necessidade de receber, levar consigo e pagar por todas as ofensas que tanto aqueles sentados ali, como toda raça humana haviam realizado contra Deus. Quando analisadas as palavras do profeta Isaías, se torna claro que Jesus Cristo cumpre cabalmente seu propósito aqui nesta terra:
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53:4-5).
Fomos alcançados pela maravilhosa graça de Cristo Jesus, mas fico me perguntando quantas pessoas temos na igreja que talvez estejam ainda como os irmãos de José. Neste ponto, a eles ainda faltava o esclarecimento de que José era o benfeitor. A eles ainda faltava o senso e a percepção de que estavam recebendo benefício de quem haviam ofendido. É bem fácil confundir o recebimento de um favor que não merecemos com graça. Mas ela não chega nem perto. O pastor e amigo Rodrigo Suhett, por vezes, cita A.W. Pink para enfatizar acertadamente que graça é um favor não merecido sendo ofertado a ofensores.
Para entendermos o que é graça temos que lembrar das palavras de Jesus na ceia com seus discípulos. "Este é o meu corpo e o meu sangue que é partido/derramado por causa de vós". E assim entendermos o privilégio de que esta é a mesa que o mestre nos chamou a assentar. É desta mesa que diariamente deveríamos nos lembrar e nos alegrar. Esta comunhão que foi proporcionada, porque o Senhor não decidiu pagar o mal que nossos pecados fazem a ele com a sentença que merecíamos, mas Ele graciosamente decidiu ofertar o bem que tanto precisávamos para que estivéssemos diante de sua presença e compreendêssemos que seu nome é manifesto de maneira gloriosa e inigualável. Que Cristo sempre nos ajude e nos encaminhe ao entendimento do Evangelho.
A Ele toda honra e toda glória!