quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Por que Deus permite o sofrimento?

Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou”. (Jó 1:20)

Quando o sofrimento bate a nossa porta, naturalmente, perguntamos: O que fiz para merecer isso? Por que isso está acontecendo? E sem obter nenhuma resposta, a conclusão sempre resulta em um sentimento de que estamos sendo injustiçados. Os ateus se utilizam deste argumento para encostar os crentes na parede (não me refiro a evangélicos) dizendo, se existe um Deus por aí, onde ele está quando estamos passando por situações de sofrimento intenso?

O Dr. Donald Carson inicia uma de suas palestras (How Could a Good God allow suffering?[1]) dizendo, “Se você viver tempo suficiente, você irá sofrer... A única coisa que poderá impedir você de sofrer é não viver o suficiente”. O exegeta expõe que esta é uma realidade que não é somente questionada ou enfrentada pelos que se chamam cristãos, mas por todos os seres humanos. Ele declara que não é possível produzir resposta satisfatória para o motivo do sofrimento. Mas, apresenta aspectos que nos remetem ao controle do Deus Todo-Poderoso e a implantação de Sua pedagogia nos seres humanos. Alguns se beneficiam quando têm conhecimento, outros, simplesmente não conseguem alcançar.

A história de Jó sempre nos remete a questionamentos desta natureza. O sofrimento dele parece algo inexplicável, algumas vezes entendido como um desafio entre Deus e Satanás. Não obstante, ter sido o próprio Deus, a fazer referência à postura íntegra de Jó: “Observaste o meu servo Jó?”. O questionamento realizado por Satanás, segundo o Dr. Daniel Santos, é algo semelhante a “Porventura teme Jó a Deus em troco de nada?”. Se analisássemos somente o primeiro capítulo, diríamos, essa parece ter sido a razão para que Deus permitisse a efetivação das tragédias na vida de Jó. No entanto, quando lemos todo o conteúdo do livro, um propósito maior está implícito.

Jó não foi capaz de compreender porque tudo aquilo havia acontecido em sua vida. E o texto demonstra que não era isso que ele deveria buscar, quando com uma boa seção de perguntas, Deus lhe mostra que Suas ações não demandavam explicações aos seres criados por Ele. Dentre os grandes aspectos pedagógicos do livro de Jó, poderíamos encontrar algo pertinente aos seus primeiros leitores, se entendessem que nem todo sofrimento é decorrente de uma atitude pecaminosa consequencial. Por isso, alguns trechos do livro são por demais delicados.

No capítulo 5, um amigo de Jó (Elifaz), apresenta a ele sua teologia, dizendo, em outras palavras, que Jó deveria aceitar aquela “correção” de Deus, indicando que provavelmente havia algo em oculto que somente Jó e Deus sabiam. Assim, estava recebendo a devida punição por isso. Jó então declara que Deus teria todo o direito de fazer de sua vida o que quisesse, mas em suas afirmações, enfoca também que o próprio Deus era testemunha de sua integridade. A consciência do controle de Deus era plena na vida de Jó, no entanto, as palavras de seu amigo não eram adequadas. Muito embora, em primeira instância, todos os homens herdaram a natureza pecaminosa de Adão. Mas, o que está implícito aqui é a consequência imediata de algum pecado.

Não poderemos identificar a grandeza da atitude de Jó, nem atrair para nós seu ensino, se não visualizarmos o quão foi doloroso para ele ter que passar por tudo o que passou. Neste ponto, já parece evidente que não obteremos resposta satisfatória para o questionamento levantado no título desta postagem. Contudo, os ensinamentos contidos neste pequeno versículo servem-nos de consolo e também fornecem a fonte da esperança e subsistência de Jó. Pois, é notório que, pela atitude de Jó, este foi o pior episódio com o qual fora confrontado em toda sua vida. Somente alguém que não se atenta aos detalhes do texto, poderia dizer que para Jó foi tranquilo ouvir, em um só dia, a tragédia de suas perdas.

Algo tão doloroso para ele havia sido aquele episódio. Ao passo que ele se levanta, rasga suas vestes, raspa sua cabeça, indicando sua condição emotiva face ao ocorrido. Essas ações indicam tristeza profunda, angústia, humilhação e luto. Não há possibilidade de que esse fato não tenha sido profundamente doloroso, tornando um pouco mais fácil a atitude de adoração de Jó. Ao contrário, pelas circunstâncias envolvidas, todas as áreas da vida de Jó, foram profundamente afetadas.

A justificativa para a atitude de Jó, porém, é esclarecida em suas próprias palavras. No verso subsequente, lemos: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; Yahweh deu e Yahweh tirou; bendito seja o nome de Yahweh.” (v.21). Jó tinha a consciência de que tudo quanto possuía havia sido dado por Deus, consequentemente, entendia que o mesmo que deu, sem que ele sequer merecesse tamanha dádiva, poderia tirar quando e como bem desejasse.

Ontem, conversava com meus alunos do 3º e 5º período do curso de Bacharel em Teologia no STO, e trouxe a eles este texto para nossa reflexão. Dentre nossas observações, notamos que este homem possuía um senso de que havia recebido muito mais do que merecia. O           que nos levou a uma clara constatação acerca de sua integridade. No texto, duas percepções são evidentes: a integridade de Jó e sua confiança em Deus. Apesar de alguns dicotomizarem os assuntos, creio que ambos estão intimamente ligados neste trecho. De maneira que a integridade de Jó é notável por sua própria confiança e certeza de que sobre a mão de Yahweh está o controle de todas as coisas.

O texto parece indicar que Jó recebe referências do próprio Deus sobre sua integridade e atitudes corretas para com Yahweh, porque ele tinha consciência da soberana mão de seu Senhor para direcionar a vida de seus súditos. Parece ser isso que leva o autor à fatídica conclusão: “Em tudo isso não pecou Jó, nem atribuiu a Deus falta alguma” (v.22). Quando seria natural do ser humano questionar: Por que eu? Por que isso está acontecendo comigo? O que eu fiz para merecer isso?

Repetimos que Jó, nem ao final do livro, compreendeu claramente por que as coisas que aconteceram em sua vida se sucederam desta forma. Todavia, o grande ensinamento que o livro de Jó parece traduzir, ao próprio personagem, é que tudo aquilo o que era crido por Jó, pôde ser experimentado para produzir verdade à sua própria fé. Deus proporcionou a Jó um meio de que sua fé fosse provada e aprovada para ratificação de sua condição de conscientemente dependente de Deus.

As tragédias enfrentadas por Jó o levaram à condição de alguém que tem a certeza de onde está firmada a sua fé. Bem, como efetivaram sua dependência do Deus Yahweh, em todos os aspectos de sua vida. Isso o levou ao grau de ser referenciado como bem-aventurado e ter sua paciência citada como um exemplo de que Deus pode agir com misericórdia e compaixão para com os seus (Tg 5:11).

Seria pertinente compreendermos que Deus tem um plano até mesmo em nosso sofrimento. As diversas etapas com as quais somos confrontados, se possuem relação de ratificação da nossa fé, são como o apóstolo Paulo declara, produtores de um “eterno peso de glória” (II Co 4:17). Jó obteve bom proveito de suas provações, chegando à conclusão que isto lhe proporcionou um conhecimento visual de Seu Senhor, “mas agora, te vêem os meus olhos” (Jó 42:5). A referência é claramente a um conhecimento mais preciso do poder que Seu Deus possuía para comandar os estágios de sua vida.

Perdemos tempo questionando por que Deus faz isso, ou permite aquilo, quando poderíamos buscar: O que Deus quer me ensinar com isso, ou com aquilo que Ele fez ou permitiu acontecer. Quem sabe, não chegaríamos ao estágio a que Jó foi levado, em uma profunda humilhação que lhe proporcionou finalmente o conhecimento de si mesmo.

Talvez este seja o grande intento de Deus, na deliberação das dificuldades que se apresentam em nossas vidas. Deus deseja que conheçamos quem Ele realmente é (Soberano), e consequentemente, quem nós somos. Ao que Jó declara: “Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza”. (Jó 42:6).

Que o Senhor nos ajude!




[1] Vídeo disponível no Youtube. http://www.youtube.com/watch?v=U21MquBWfag

4 comentários:

  1. A paz Pastor!!!!observando este comentário leva me a questionar porque e natural pensarmos que uma vez convertidos nao sofreremos ou nao passaremos por nenhum infortúnio da vida !!!ser crente hoje para alguns remete ter um Deus todo poderoso a nosso favor todo o tempo e quando nos frustamos com algo pensamos no que pecamos ou porque Deus mos permitiu algo ruim ...gosto de pensar quando passo por situações as quais nao me agradam que além de nao estar tão fiel e na intimidade com o meu Deus o merece tudo que eu passarinha vida inteira ainda nao seria o bastante para pagar por tudo o quanto Ele fez e faz por mim ainda!!!!E o livro de Jó nos toca no sofrimento árduo de alguém tão fiel e sincero que mesmo no pior de sua vida nao negou ao seu Senhor !!!!Todo tempo devemos nod dispor ao tratamento do nosso Pai que tudo governa e mos ama tanto que nos molda ,como ele quer!!!devemos olhar nossos sofrimentos como um remédio a fim de curar nossas inclinações ao erros que todos os dias nos dispomos a cometer e que possamos estar atentos a nao desagradar ao nosso Deus!!!!sua aluna Andrea (Smto 42)

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    1. Prezada irmã Andrea,

      Obrigado por mais um de seus comentários. Sou grato a Deus por todos aqueles que têm a oportunidade de refletir sobre a Palavra de Deus. Como disse, este é um verdadeiro dilema na vida dos crentes e não crentes.

      Escrevi este comentário, justamente, porque fui arguido acerca de tal assunto. É muito difícil para as pessoas, saberem que podem estar padecendo alguma dificuldade, porque Deus deseja lhes ensinar algo. Mas, a Bíblia está repleta de casos desses.

      Aprendi a ler a Bíblia da perspectiva de que Ela trata da revelação de Deus para os homens. Sendo assim, o que Ele quer que aprendamos a Seu respeito, se encontra descrito nestas páginas. E por assim dizer, percebemos que o ensino expresso nas Sagradas Escrituras sempre se volta para Seu propósito maior de apresentar aos homens sua infeliz condição. Ao mesmo tempo que, evidencia o grande amor de Deus, pois para o resgate de muitos, proporciona a redenção dos que outrora escravos do pecado, agora os chama Seus filhos.

      Que sejamos alcançados por tamanha preciosidade (deste ensino), que não significa uma religiosidade exagerada. Ao contrário, traduz o entendimento de um padrão de vida que nos inunda quando temos contato com esta realidade, pelas misericórdias de Deus.

      Que o Senhor lhe abençoe!

      Jonatas

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  2. A Paz do Senhor Professor! Como é maravilhoso termos a oportunidade de podermos parar tudo o que estamos fazendo para ouvir a voz de nosso Pai a falar conosco. Nesses dias tenho aprendido bastante com Deus! Ele tem me ensinado com amor, graça, misericórdia e paciência (muita paciência)! E sou muito grata porque de fato, tenho compreendido que as aflições e sofrimentos realmente tem sido fundamentais para meu aprendizado. Tenho visto que por mais que pareça impossível e difícil aos meus olhos, nada, absolutamente nada, escapa do controle de nosso Deus. Ele é Soberano sobre todas as coisas! E mesmo quando achamos que não iremos suportar, nos deparamos com a potente mão do Senhor sobre nossas vidas.
    E tem sido perguntas muito pertinentes estas:" o que Deus quer me ensinar com isso?" "para que meu Pai está permitindo que essas coisas me sobrevenham?"
    E quando me faço essas perguntas sempre me deparo com meu PAI! Cada vez mais perto de mim! Meu Pai firme, constante, imperturbado, inabalável, e sempre presente! Ele me acolhe, me abraça! Receber os cuidados dEle e desfrutar de Sua presença em meu cotidiano tem sido meu maior prazer, minha maior alegria!
    E, mesmo estando em meio à lutas, minha alma tem contante paz, porque sei bem que Ele é comigo, sem Ele eu não sou nada! Tenho conhecido meu Pai, descoberto minha pequeninez e vivido Seu imensurável amor por mim!
    Professor, que nosso Deus continue a lhe usar cada dia mais! Obrigada!
    Que o Senhor nos abençoe!
    Um abraço!
    Franquicione Renata (aluna do STMO - Km 42)

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  3. Prezada irmã Franquicione,

    É um grande prazer receber sua contribuição. Ela foi no âmago da questão. Tudo gira em torno de encontrarmos nossa real posição e condição. E como servos de Deus, reconhecermos que o que acontece em nossas vidas, não deveria estar desconectado da Soberana Mão de nosso Senhor, quando não encontramos explicações (até mesmo para as intempéries) para tal.

    Descansar neste conhecimento pode nos levar à paz que só um crente em Cristo, pode desfrutar. É o grau de maturidade a que chegou o apóstolo Paulo, ao ponto de declarar: "Posso todas as coisas naquele que me fortalece.".

    Que o Senhor se agrade em lhe abençoar ricamente!

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