quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pensamento sobre o cânon e a importância do II Século


          Prezados, demorei a publicar o segundo paper, pois estive por demais atarefado com demandas diversas (escola, seminário, igreja e muitras outras). Tenho visto alguns alunos em seus projetos demonstrarem desejo de falar sobre o Cânon. Realizei um trabalho maior sobre isso quando estudei sobre os apócrifos do período neotestamentário. O módulo foi bem interessante, ministrado pelo Dr. Augustus. Em outra ocasião falamos sobre a importância do século II para a consolidação do Cânon da Escritura, assunto bastante controverso na academia. Por este motivo, pontuo apenas (como mencionei que seria) uma pequena linha sobre o assunto. Esperando que sirva aos estudantes de alguma forma. Aponto algumas importantes referências para avanço na pesquisa do tema também.
História do Cânon (resumo)
          É natural encontrar pessoas questionando a validade do Cânon adotado pela Igreja. No meio crítico se encontram aqueles que procuram trazer descrédito a lista que foi desde cedo adotada pela igreja como os livros autoritativos, os quais foram reconhecidos como a Palavra de Deus. Não se pode afirmar que havia uma consciência da dimensão de uma lista de livros canônicos, mas, isso de fato nem era necessário[1] para que houvesse a certeza do poder e a suficiência destes escritos.

            Leon Morris afirma que a Bíblia como a Palavra de Deus tomou seu devido lugar, impondo sua autoridade com relação aos outros escritos e, desde cedo era a estes escritos – que posteriormente foram considerados canônicos – que os cristãos recorriam quando possuíam alguma dúvida sobre algum ensino[2]. Marshal também afirma isso e acrescenta que um consenso entre a igreja, não havendo grandes discordância a respeito do conteúdo, é algo que deva ser plenamente considerado[3].

Sem dúvidas, a mais recente e interessante posição acerca desta temática é a defendida por Andreas Kostenberg[4]. Dentre suas definições, ele aponta que a ideia de Canon é algo que precede a própria igreja e tem como padrão o exemplo do fornecimento do conteúdo para o povo hebreu. A forma como o  texto veterotestamentário está para o seu desdobramento, primeiramente nele mesmo e também pelo aspecto complementar que AT e NT exercem um em função do outro, se observados os temas basilares aos quais estavam expostos os primeiros cristãos, consolidam sua dependência mútua[5].

Desta forma, tanto a ação do Deus Yahweh, ao retirar seu povo do cativeiro egípcio, conduzindo-os ao monte Sinai para fornecer os seus preceitos para então serem levados a terra, assim como o fornecimento da regulamentação de adoração do povo por intermédio do Decálogo, Código da Aliança e posteriores informações para confecção do Tabernáculo – manifestam evidências dos propósitos de Deus no cuidado com a obediência devida por aqueles que lhe serviriam. Semelhante ao AT, os escritos do NT também seguem este padrão, na formação e instrução da comunidade da Nova Aliança. Jesus Cristo instituiu os discípulos como aqueles que dariam continuidade aos seus ensinos, estabelecendo as bases pela qual os cristãos seriam fundamentados.

            Na perspectiva do povo de Deus, ambos os Testamentos são registrados de forma escrita, posterior aos atos redentivos de Deus. Essa característica evidencia a relação do cânon com a História da Redenção[6]. Após o segundo século, houve uma efervescência a respeito de quais seriam os livros que comporiam as Sagradas Escrituras. No entanto, é possível ver que os chamados pais da igreja começaram pouco a pouco dar testemunho daqueles que foram reconhecidos como autoritativos pela igreja.

            A importância do segundo século é vista pela ratificação da autoridade das Escrituras. Como os primeiros cristãos tinham como referência as Escrituras do Antigo Testamento, eles mesmos tinham a noção de que o cânon era algo crescente[7]. Esta referência serviu como base para a identificação de que isso estava ligado à ação do Espírito Santo, na vida de homens que falaram movidos por Ele. Desta forma, também no período de composição do Novo Testamento havia esta conscientização da celebração da Palavra de Deus.

Após a morte dos apóstolos, houve naturalmente a preocupação com a defesa da fé dos cristãos e os Escritos Sagrados. A grande tentativa de adentrar os círculos cristãos, por parte dos heréticos, foi identificada pelos pais como algo que requeria seu posicionamento. Desta forma, o segundo século se apresenta como plenamente importante para a confirmação daquilo o que já havia sido reconhecido pela igreja como as Escrituras Sagradas.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS:
BRUCE, F.F. The Period Between Testaments: The Political Development. The Bible Student. V. 20.1: Jan 1949. Pg 9-15
____________. The Period Between Testaments: Religion Development. The Bible Student. V. 20.2: April 1949. Pg 59-64.
Duvall & Hays, J. Scott & J. Daniel. Grasping God's Word: A Hands-On Approach to Reading, Interpreting and Applying the Bible. 2nd ed. Grand Rapids: Zondervan, 2005.
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Vida Nova: São Paulo, 2000.
MATOS, Alderi de Souza. Sola Scriptura: A centralidade da Bíblia na Experiência Protestante. Instituto Presbiteriano Mackenzie. Disponível em http://www.mackenzie.com.br/6965.html.
MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
KOSTENBERG, Andreas J. KRUGER, Michael J. A Heresia da Ortodoxia. São Paulo: Vida Nova, 2014.
PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. Hagnos: São Paulo. 2008
Spaggiari & Perugi, Barbara & Maurizio. Fundamentos da Crítica Textual. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
WARFIELD, B.B. A inspiração e a Autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã. 2010




[1] Cf. WARFIELD, B.B. A inspiração e a Autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã.
[2] MORRIS. Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
[3] MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.
[4] Cf. KOSTENBERG, Andreas J. KRUGER, Michael J. A Heresia da Ortodoxia. São Paulo: Vida Nova, 2014.
[5] Idem. P 143.
[6] Idem P 152.
[7] Warfield. P 3

Nenhum comentário:

Postar um comentário